Título: Fogo amigo tira foco de votações
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2009, Política, p. 4

Base aliada queria retomar ritmo normal, mas boicote da oposição e discussão no plenário acirram ânimos

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Quase 50 projetos estão prontos para serem votados no plenário do Senado.

Entre eles, o que veda a progressão de penas para crimes hediondos, o que institui novas normas para licitações e o que torna inelegíveis candidatos que tenham parentes ocupantes de cargos comissionados (veja quadro). Líderes do PTB, PDT e do PMDB apresentaram ontem, durante a reunião conduzida pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), uma lista com as propostas consideradas prioritárias para os próximos dias.

Falta agora consenso entre a base aliada e a oposição, já que o bate-cabeça parece não ter fim. A oposição, que esvaziou a reunião de lideranças, mantém o clima de crise institucional. A base aliada trabalha pela trégua e pela retomada dos trabalhos. Só que tem problemas para controlar o ¿fogo amigo¿. Ontem, diante do plenário quase vazio, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) voltou a pedir a renúncia de Sarney. Desta vez, usando um cartão vermelho para enfatizar a intenção.

A temperatura subiu com a intervenção do primeiro-secretário da Mesa Diretora, senador Heráclito Fortes (DEM-PI). ¿Vossa Excelência deveria apontar o cartão vermelho para o Lula, que foi quem atravessou o campo, invadiu as dependências do Senado e deu cartão amarelo para o líder Aloizio Mercadante (SP)¿, devolveu Fortes, que momentos antes também recebera cartão vermelho do petista.

¿O arquivamento das representações não resolveu suficientemente as dúvidas citadas¿, sustentou Suplicy, em referência às suspeitas de nepotismo e de corrupção na Casa. ¿Vossa Excelência se cala diante da corrupção que grassa no governo¿, prosseguiu Heráclito, em tom exaltado.

José Sarney, tentando amenizar o clima, disse mais tarde que pretende reverter a crise com o que chamou de ¿ações sucessivas¿.

¿Vamos com calma. Tem muita coisa para ser apreciada¿, disse, minimizando a falta dos líderes do PSDB e do DEM no encontro de líderes.

Sem quorum Por enquanto, os senadores se comprometeram a analisar apenas matérias que não exijam quorum qualificado. Pelo menos 16 propostas deverão ser votadas nos próximos dias. Em sua maioria, são decretos legislativos que tratam da programação monetária e de acordos internacionais, como o de direitos humanos no Mercosul.

Para senadores da oposição, ainda não há projetos importantes na Casa. ¿Estamos aguardando a MP 462, que trata do socorro aos municípios¿, enfatiza o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), defendendo mais uma vez o enfrentamento da crise ¿com verdades¿.

A MP 462 é a única que interessa aos dois lados. Agripino Maia (DEM-RN) também não soube destacar alguma proposta relevante que esteja em tramitação.

¿Não tem. Quando tiver, vamos discutir. Só não precisa ficar fazendo reunião¿, alfinetou. Os dois admitem que o Senado não está no ritmo adequado e que vai levar tempo para isso acontecer.

Opinião contrária à do senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

¿Os líderes precisam se movimentar para a retomada dos trabalhos.

A população espera isso de nós¿, defende Raupp.

DEM suspeita de queima de provas

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), pediu ontem ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que investigue se o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Jorge Felix, omitiu informações sobre suposta reunião no fim do ano passado entre a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Segundo Lina, no encontro Dilma teria pedido agilidade na apuração de denúncias contra familiares do presidente do Senado, José Sarney. Lina disse ter entendido o pedido como pressão para encerrar o caso. Dilma nega o encontro. Maia decidiu acionar o procurador após o GSI ter divulgado nota na qual afirma que não há registros do encontro, porque as imagens seriam apagadas a cada 30 dias. O presidente do DEM desconfia que tenha ocorrido uma queima de provas.