Título: PT tenta mostrar unidade
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2009, Política, p. 5

Eleições 2010

No lançamento da candidatura de José Eduardo Dutra à presidência da legenda, partido afina discurso contra rivais

Com a crise no Senado ainda latente na cabeça dos petistas, o comando do PT aproveitou o lançamento da candidatura de José Eduardo Dutra à presidência do partido para alinhavar os quatro pontos que levará aos palanques na eleição de 2010, quando o PT completa 30 anos: a resposta à ex-petista Marina Silva, a referência à crise do Senado como um problema político, a necessidade da aliança com o PMDB e, de quebra, passar a ideia de que os tempos de brigas acirradas entre as tendências petistas passaram.

Prova desse quarto ponto foi o gesto do candidato, que ligou para os adversários internos, Geraldo Magela (PT-DF), Iriny Lopes (ES) e José Eduardo Cardozo (PT-SP), convidando a todos para o ato de ontem. Os três que estarão contra Dutra em 22 de novembro tiveram direito a dar o recado de unidade do partido em torno da candidatura de Dilma Rousseff à sucessão de Lula.

No que se refere à crise do Senado, o recado ficou por conta do discurso da líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), obrigada a votar a favor do arquivamento dos pedidos de abertura de processo contra José Sarney no Conselho de Ética. ¿Ali, não é fácil. É preciso coragem¿, disse, terminando com a frase que levantou o auditório: ¿Tenho orgulho de ser petista¿.

Aloizio Mercadante não compareceu. Ficou em São Paulo, num evento com o presidente Lula. Em sua ausência, brilhou a ex-prefeita Marta Suplicy, que desconversou quando perguntada se iria concorrer ao Senado: ¿Serei candidata em 2010. A quê, as circunstâncias dirão¿, afirmou.

O quesito aliança também esteve presente, e soou como resposta às críticas que o PT recebe do PSDB: ¿Aqueles que nos acusam de aliancismo são os mesmos que, no passado, criticavam nosso sectarismo. Os que falam do nosso pragmatismo são os que nos chamavam de irresponsáveis por não votar a favor de projetos neoliberais¿, disse o governador de Sergipe, Marcelo Deda.

Os ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luis Barreto (Turismo) fizeram questão de comparecer e dar recado em favor de Dutra. Mas o contra-ataque ao discurso verde da ex-petista Marina Silva foi do atual presidente, Ricardo Berzoini: ¿Dois senadores saíram e dizem que estamos divididos. Ora, ninguém tem mais moral para falar de meio ambiente do que o PT¿, alegou.

Dutra começa a campanha com vantagens: o apoio do presidente Lula, de quase todos os ministros (menos o da Justiça, Tarso Genro ) e da maioria dos deputados federais. Terá ainda a ajuda de José Dirceu. E não perdeu a oportunidade de jogar para a torcida. ¿Os profetas do apocalipse pregaram o fim do PT por várias vezes, e o PT sempre se manteve¿, afirmou.

Apesar de todo o esforço pela unidade, um gesto mostrou que o PT ainda tem problemas internos. Ricardo Berzoini, por exemplo, se recusou a cumprimentar Eduardo Suplicy na saída.