Título: Gastão quer equipe técnica e pede indicação de nomes com ficha limpa
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 17/09/2011, O País, p. 4

NOVA TROCA

Ministro consultou CGU, e PMDB aceitou perder influência para evitar desgaste

BRASÍLIA. Visto com desconfiança por ser conterrâneo do antecessor também maranhense Pedro Novais (PMDB-MA), e igualmente apadrinhado pelo senador José Sarney, o novo ministro do Turismo, Gastão Vieira, quer não só melhorar a imagem da pasta. Pretende também se proteger no cargo com a nomeação de técnicos acima de qualquer suspeita para os cargos tradicionalmente políticos, como a secretaria executiva, o segundo cargo na hierarquia do ministério.

Gastão já pediu ajuda a Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União, para que indique técnicos do órgão de fiscalização do governo para mudar o perfil do Turismo. Mesmo perdendo o poder de barganha, o PMDB aceitou o perfil técnico defendido pelo novo ministro.

"Ministro tem carta branca", diz Eliseu Padilha

O ministro avisou aos colegas de partido que escolherá os principais cargos em sintonia com o Planalto. E só nomeará o próximo secretário-executivo com o aval direto da presidente Dilma Rousseff. Essa foi a solução encontrada por caciques do PMDB, como o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney, para evitar novos problemas que desgastem a imagem do partido.

- Da nossa parte, o ministro Gastão Vieira tem carta branca para escolher sua equipe dentro do corpo técnico. Ele tem pressa para mostrar eficiência e não pode compor a equipe com pessoas que vão cair lá de paraquedas para aprender. E, mesmo nos cargos políticos, suas indicações técnicas serão também do PMDB, já que ele é do PMDB. O que o partido quer é que o Turismo tenha desempenho notável - disse o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS).

Gastão decidiu adotar o "modelo Edison Lobão", que assumiu Minas e Energia no governo Lula e voltou ao cargo na gestão Dilma. Pelo modelo, as principais indicações do ministério e do setor são da própria Dilma. Com isso, apesar de perder influência na pasta, Lobão ganhou a confiança da presidente.

Esse modelo, no entanto, enfraquece ainda mais a bancada do PMDB na Câmara. Na gestão do ex-ministro Pedro Novais, o líder do partido, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), exercia influência na pasta. Foi o responsável pela indicação do ex-secretário-executivo Frederico Costa, o Fred, preso na Operação Voucher da Polícia Federal.

Alguns dos deputados peemedebistas ficaram incomodados com a decisão de Gastão, já que o Turismo é um dos ministérios com maior empenho de emendas parlamentares para obras nos redutos eleitorais.

- Sarney terá mais um gabinete na Esplanada, e a bancada ficou sem nada - disse um vice-líder do partido na Câmara.

Mas a iniciativa de Gastão foi elogiada no Planalto. Ontem, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) ressaltou que o perfil foi importante para sua escolha. Na definição de nomes, Dilma consultou ainda o ministro da Educação, Fernando Haddad, sobre o deputado, pela sua especialização em educação.

- O Gastão Vieira já sinalizou que vai se cercar de nomes técnicos - elogiou Ideli Salvatti.

Adversário de Sarney, Flavio Dino avaliza escolha

O presidente da Embratur, Flavio Dino, avalizou a escolha:

- Seguramente o novo ministro se cercará dos técnicos e especialistas necessários para realizar um ótimo trabalho nesse momento tão importante para o turismo brasileiro.

Dino disse que o fato de ele e Gastão estarem em posições contrárias na política regional, no Maranhão, não impedirá um trabalho conjunto. O novo ministro é aliado da família Sarney, adversária de Dino no estado.

- Temos um governo formado por políticos e técnicos. Temos de compreender a diferença e o lugar da política nacional e da regional. Regionalmente, sou adversário do grupo Sarney, e nacionalmente temos uma base de apoio ao governo da presidenta Dilma - disse Dino.