Título: Dilma defende escolhas políticas
Autor: Gois, Chico de; Souza, André de
Fonte: O Globo, 17/09/2011, O País, p. 3
NOVA TROCA
Declaração foi feita na posse do novo ministro do Turismo, indicado por Sarney
Chico de Gois, André de Souza e Catarina Alencastro
Numa cerimônia esvaziada e fechada para a imprensa, com a presença de apenas dois caciques do PMDB - e sem Pedro Novais, que deixou a pasta sob acusações de irregularidades -, a presidente Dilma Rousseff deu posse ontem ao novo ministro do Turismo, Gastão Vieira (PMDB-MA), dizendo que escolhas políticas para cargos públicos não desmerecem um governo. Para Dilma, administrar um país como o Brasil requer a atuação tanto de políticos como de técnicos.
- Escolhas políticas não desmerecem nenhum governo. É com políticos e com partidos políticos, com técnicos e com especialistas que se governa um país tão complexo como o nosso Brasil. A política bem exercida é uma atividade nobre e imprescindível à sociedade democrática - disse Dilma, afirmando que Gastão Vieira pode contar com o apoio dela.
Dilma elogiou seu novo auxiliar pela atuação na educação, embora o tenha conhecido apenas na noite de quarta-feira, quando o nomeou, aceitando, mais uma vez, a indicação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Os peemedebistas, aliás, foram os grandes ausentes da cerimônia.
Além de José Sarney, estavam somente o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e os deputados Renan Filho (PMDB-AL) e Maninha Raupp (PMDB-RO). O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não compareceu. O vice-presidente Michel Temer não foi porque estava em São Paulo fazendo exames médicos, como justificou.
Presidente viaja hoje para Nova York
Ausente da cerimônia por motivo não explicado publicamente, Pedro Novais só teve o nome citado por Dilma uma vez, num agradecimento meio tímido. Os elogios couberam a Gastão, de quem Dilma destacou a experiência administrativa como secretário estadual nos governos de Edison Lobão e Roseana Sarney no Maranhão, e a atividade parlamentar - ele foi deputado por cinco mandatos.
- Eu também sei que o senhor tem grande capacidade como gestor público, porque nos últimos dias eu não posso dar um passo sem que as pessoas se aproximem de mim elogiando a trajetória do senhor. O senhor, que foi secretário várias vezes na área de Educação e de Planejamento, trará essa experiência para nós. Conheço também a sua larga experiência como parlamentar - afirmou a presidente.
Para Dilma, o grande desafio do Ministério do Turismo é formar mão de obra qualificada para atender os turistas internos e os que vêm do exterior, citando os eventos esportivos - Copa e Olimpíadas - que o Brasil vai sediar.
Com frases de efeito e admitindo que não esperava se tornar ministro, o que o deixou apreensivo, Gastão Vieira disse que a cerimônia simples lhe cabia bem.
- Quero agradecer a senhora por esta cerimônia bem simples. Eu prefiro que seja assim. Eu prefiro que a chegada seja simples, para que a saída seja cheia do sentimento do dever cumprido - declarou.
Em seguida, para agradar a Sarney, presente à cerimônia, pediu "licença" ao senador e citou padre Antonio Vieira ao dizer que "nós somos o que fazemos, e o que não se faz não existe".
Gastão Vieira, em seu discurso, soube agradar à nova chefe, citando os programas sociais tocados pela presidente, como o Brasil Sem Miséria e o Pronatec. Propôs que essas ações possam ter no Turismo uma porta de incorporação dos mais pobres ao mercado de trabalho, desde que devidamente treinados.
O novo ministro disse que chegava ao governo para ajudar Dilma a fazer um país mais justo socialmente - música para os ouvidos dela. E mais de uma vez repetiu que tinha medo:
- Muito assustado, recebi seu convite para fazer parte do seu governo. E foi a primeira vez em que acho que o medo facilitou a decisão. Eu estava com tanto medo que nem que eu quisesse poderia dizer "não" para a senhora.
Ao encerrar seu discurso, Gastão Vieira afirmou que o medo que tivera de dizer "não" a Dilma havia se transformado:
- Estou muito emocionado e até lhe digo: todos os meus medos, neste momento, foram acalmados pela minha emoção.
A assessoria de imprensa da Presidência informou que a solenidade de posse ocorreu na sala de audiências, ao lado do gabinete da presidente, porque não houve tempo hábil para uma cerimônia maior, uma vez que Dilma viaja hoje para Nova York e queria dar posse logo ao novo ministro. O fato de o evento ter ocorrido numa sala menor, e não em um dos imensos salões onde comumente ocorrem as posses, justificou, segundo a assessoria, o impedimento para que a imprensa acompanhasse o ato no local.