Título: O Bolsa Família em 2010
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2009, Política, p. 6

Para Lula e Dilma, o Bolsa Família é, com certeza, um trunfo na campanha. Dificilmente, no entanto, será um argumento decisivo

Na mais recente pesquisa nacional da Vox Populi, havia uma pergunta cujas respostas podem nos ajudar a entender os impactos que o Bolsa Família pode ter nas eleições do ano que vem. Ela já tinha sido feita antes, com resultados parecidos.

A pergunta estava encaixada em um bloco do questionário dedicado a assuntos eleitorais e foi formulada da seguinte maneira: ¿Com qual das frases a seguir você mais concorda: a) só o candidato apoiado por Lula vai manter o Bolsa Família; b) qualquer candidato que for eleito vai manter o Bolsa Família, mas o apoiado por Lula é que terá mais interesse; c) todos os candidatos têm o mesmo interesse em manter o Bolsa Família; d) nenhum dos candidatos vai manter o Bolsa Família¿.

Concordaram com a primeira opção 24% dos entrevistados, sendo 23% os que preferiram a segunda. A terceira foi escolhida por 41% das pessoas, restando 4% que optaram pela quarta. Não souberam ou não opinaram 9% dos entrevistados.

A primeira coisa que chama a atenção é a quantidade de pessoas que acham que o programa será mantido pelo futuro presidente. Dois terços dos entrevistados imaginam que ele permanecerá (ou desejam que isso ocorra), seja quem for o eleito, com mais um quarto supondo que isso só aconteceria se o candidato de Lula vencesse. A rigor, apenas 4% estão convencidos que ele não será continuado.

É também relevante que a resposta mais frequente seja que ¿todos os candidatos¿ teriam o mesmo interesse em manter o programa. Algo perto de 40% da população, se essa proporção ficar igual até 2010, não parece temer que ele venha a ser interrompido. Em outras palavras: dificilmente se amedrontará se alguém disser, na campanha eleitoral, que determinado candidato ¿vai acabar com o Bolsa Família¿. São pessoas que, simplesmente, não acreditam nisso.

No polo oposto, temos os 24% para quem só um candidato teria motivação para mantê-lo: aquele ou aquela que Lula apoiar. A proporção é alta e mostra como foi eficaz a estratégia de associar o programa à figura do presidente. Uma em cada quatro pessoas não confia em sua continuidade se o eleito não for aquele ou aquela que ele indicar.

Para entender melhor os resultados, é possível analisar em separado as respostas dos entrevistados que residem em domicílios onde pelo menos uma pessoa recebe seus benefícios. Por sua relação íntima com o programa e uma provável dependência em relação a ele, é razoável imaginar que pensem de maneira diferente dos não beneficiários.

Isso de fato acontece. Entre a clientela do programa, a taxa de respostas ¿só o candidato apoiado por Lula vai manter o Bolsa Família¿ sobe para 43%, se aproximando da metade. Quem mais depende dele, mais credita a Lula seu benefício e mais teme a descontinuidade.

Para o presidente e sua candidata, o problema é que não chegam a 15% os eleitores nessa condição. Os restantes 80% não percebem riscos maiores à sobrevivência do programa em caso da vitória de alguém que não seja ligado a Lula.

É evidente que tudo mudaria se um ou mais candidatos resolvessem criticá-lo. Seria a situação ideal para Lula, na qual seria fácil montar um quadro onde sua candidata ficaria como a paladina do Bolsa Família, contra todos seus inimigos.

Só que isso não vai acontecer. Sabendo que o programa é muito bem avaliado pela maioria da população, nenhum candidato de oposição proporá seu fim. Todos sua melhora, que é o que a própria Dilma fará.

Como fazer com que as pessoas mudem de opinião, se elas não acreditam que ¿só o candidato de Lula¿ vai manter o programa? Como convencê-las de que os candidatos de oposição vão acabar com ele, se eles dizem o oposto?

Para Lula e Dilma, o Bolsa Família é, com certeza, um trunfo na campanha. Dificilmente, no entanto, será um argumento decisivo.