Título: Avanço do crédito no Brasil traz risco
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 22/09/2011, Economia, p. 27

FMI alerta para problemas na estabilidade por causa de ritmo de empréstimos

WASHINGTON. O "Relatório de Estabilidade Financeira Global" do Fundo Monetário Internacional (FMI) não se restringiu à análise das crises nos EUA e na zona do euro. O documento, divulgado ontem, também mandou um recado para o Brasil e outros países emergentes, alertando que o rápido crescimento do crédito no país representa um risco à estabilidade.

No relatório, a equipe de economistas do FMI cita o exemplo de Brasil e Turquia para afirmar que a "qualidade dos empréstimos parece forte na superfície, mas a rápida expansão do crédito doméstico representa um desafio chave para a estabilidade futura", diz o documento.

Para os economistas do Fundo, o veloz crescimento do crédito em economias emergentes favorece o risco de deterioração na qualidade dos empréstimos. Em 2010, a expansão de crédito no Brasil foi de 25,5%, segundo os dados da instituição.

- Os mercados emergentes com maior volatilidade de fluxo de capitais, com alto risco de vulnerabilidades financeiras e com pouca margem de manobras nas regras fiscais são os que poderão ser mais afetados pela piora da situação nos países ricos - diz o diretor do Departamento de Estudos Financeiros do Fundo, José Viñals.

Para o FMI, o índice de inadimplência de bancos na América Latina e em mercados emergentes corre o risco de aumentar mesmo sem novos choques econômicos. Na América Latina, o Fundo estima que o índice, hoje ao redor dos 4%, poderá chegar a 5% até o final de 2011, e superar os 6% em 2012.

Fluxo de capital estrangeiro alimentou crédito doméstico

A preocupação manifestada pela instituição encontra eco no governo brasileiro, que já adotou medidas para restringir a concessão de empréstimos e controlar a inflação. O relatório do FMI lembra que os grandes fluxos de capital que invadiram muitos países emergentes, como o Brasil, após a crise econômica mundial, ajudaram a alimentar a expansão na liquidez e no crédito.

Se por um lado, esse quadro ajudou essas nações a se manterem relativamente ilesas dos efeitos da crise global, por outro, ele traz o risco de superaquecimento em algumas dessas economias emergentes, com gradual acúmulo de desequilíbrios financeiros e deterioração da qualidade de crédito.

O relatório alerta ainda que a saída abrupta do capital estrangeiro também provocaria desequilíbrios importantes nos países emergentes. Isso teria reflexos nas perspectivas de crescimento ou no risco-país.

Economistas apontam as restrições ao crédito como um dos motivos para a redução das projeções de crescimento brasileiro. O Fundo reduziu na terça-feira para 3,8% a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, queda de 0,3 ponto percentual em relação à estimativa anterior, de junho.