Título: Estudo do governo defende aumento do ano letivo
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 22/09/2011, O País, p. 13

Haddad apresenta dados que mostram que dez dias a mais de aulas podem elevar rendimento nas escolas em 44%

BRASÍLIA. Aumentar o ano letivo em dez dias pode fazer melhorar o aprendizado em 44%, diz estudo divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). O levantamento, que consistiu na análise de pesquisas nacionais e internacionais da última década, serviu de base à proposta do ministro Fernando Haddad de ampliar o tempo de permanência das crianças em sala de aula. Na semana passada, Haddad defendeu a extensão do ano letivo de 200 para 220 dias, ou o acréscimo de uma ou mais horas à jornada diária.

O levantamento lista medidas com impacto direto na melhoria do aprendizado. A qualidade dos professores é apontada como mais eficaz: alunos que têm aulas com os melhores docentes teriam rendimento 68% acima dos colegas atendidos pelos piores profissionais. Segundo o estudo, o aumento de dez dias de aula equivaleria, em termos de elevação da aprendizagem, à redução do número de alunos por turma.

Haddad voltou a defender o aumento do tempo de permanência dos estudantes em sala de aula como forma de reduzir a desigualdade na educação. Na última semana, a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) expôs mais uma vez a distância que separa a rede pública da privada: oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média nacional.

- Um dos maiores problemas da educação brasileira está na questão da desigualdade de aprendizado entre os alunos. Metade dos brasileiros tem já alto desempenho escolar. A outra metade fica defasada, em função de razões socioeconômicas ou da baixa exposição ao conhecimento na escola. Temos que nivelar por cima as condições de ensino no país - disse o ministro.

O levantamento foi coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, que é secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ele disse que o Brasil está entre os países que mais melhoraram o nível de aprendizagem na última década.

O problema é que a defasagem brasileira era tão grande que o país continua em má situação. No ritmo atual, segundo Paes de Barros, o Brasil chegará a 2021 com os estudantes atingindo o nível de conhecimento que os alunos chilenos detêm hoje. Por isso, enfatizou, o Brasil precisa acelerar a aprendizagem, ampliando investimentos e melhorando a gestão dos recursos.

- Em termos de custo, o aumento do ano letivo tem uma vantagem incrível: não precisa de mais espaço e usa os mesmos professores por mais tempo - disse Paes de Barros.

Haddad afirmou que espera concluir no fim do ano o debate com secretários estaduais e municipais de Educação sobre a melhor forma de aumentar a permanência dos alunos. Ele disse que é possível aproveitar um projeto de lei já aprovado no Senado, que amplia o ano letivo das atuais 800 para 960 horas.

- Hoje existem evidências fortes de que a carga horária anual é baixa no Brasil. Quatro horas por duzentos dias é um caminho que nenhum país está trilhando. Ou você tem mais horas por dia ou mais dias por ano, totalizando mais do que 800 horas - afirmou o ministro.