Título: O perigoso isolamento de Israel
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Fonte: O Globo, 22/09/2011, Opinião, p. 6

Certos líderes mundiais parecem o povo de um certo país: deixam tudo para a última hora. As negociações em busca de um acordo entre Israel e os palestinos atravessaram longa estagnação. Mas agora, na abertura da 66ª Assembleia Geral, há um verdadeiro frenesi diplomático provocado pela há tempos anunciada iniciativa palestina de pedir amanhã às Nações Unidas o reconhecimento do seu tão esperado Estado nacional.

A liderança palestina moderada cansou de esperar gestos concretos de Israel ou que os EUA convençam Israel a negociar. As conversações frenéticas na ONU são para demover Abbas de formalizar sua demanda à ONU. Muitos, agora, a começar por Israel, querem que as negociações de paz se reiniciem a toque de caixa. O que se teme, com razão, é que o reconhecimento do Estado palestino pela Assembleia Geral - no Conselho de Segurança deverá ser vetado pelos EUA -, além de inócuo, injete mais tensão no Oriente Médio e acabe sendo o estopim de novos conflitos.

Negociações que deveriam já ter ocorrido ou estarem ocorrendo segundo um cronograma acordado entre as partes ganharam agora um ritmo açodado, quase desesperado. Mas a situação dos participantes mudou para pior.

Israel, por exemplo, sofre processo de isolamento em função da atitude arrogante do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que não quis ou não conseguiu flexibilizar a postura de seu governo diante das mudanças em curso na região. Ditadores que mantinham a ferro e fogo o status quo com o Estado judeu foram varridos para o lixo da História pela Primavera Árabe. Como Hosni Mubarak, do Egito. Outro importante interlocutor israelense no mundo muçulmano, a Turquia, passou a apoiar firmemente os países árabes e não perde oportunidade para criticar Israel, num projeto de obter influência naquela região do mundo. As posições inflexíveis de Netanyahu desgastam os EUA, que se equilibram precariamente na condição de grande aliado de Israel e, ao mesmo tempo, de mediador da busca de um acordo que leve à criação de um estado nacional palestino. O certo é que este isolamento não ajuda a paz.

Os próprios palestinos estão numa situação paradoxal: ao reivindicar um Estado segundo as fronteiras de 1967, estão, de forma indireta, reconhecendo as fronteiras de Israel. Com isso, perde sentido sua reivindicação de retorno dos refugiados para áreas de origem dentro do Estado judeu: eles teriam de voltar para o Estado palestino onde, com certeza, não há espaço físico. Assim, a iniciativa de Abbas junto à ONU não é vista com bons olhos pelos radicais do Hamas, governantes da Faixa de Gaza.

Salvo mudança de última hora, os palestinos devem ter seu Estado reconhecido pela assembleia, o que não mudará em essência a situação atual. Uma medida do apoio de que goza a demanda palestina nesse fórum foram os fortes aplausos recebidos pela presidente Dilma Rousseff, no discurso de abertura da reunião, quando manifestou apoio à iniciativa. Se falharem as tentativas para que Abbas adie o pleito, que ao menos seja mantida a mobilização para possibilitar avanços na rota de um acordo que permita aos dois povos viverem lado a lado, em paz.