Título: Alimentos: governo pode dar mais crédito e usar estoque
Autor: Ribeiro, Fabiana; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 21/09/2011, Economia, p. 21

Equipe econômica espera a divulgação da projeção de safra no início do mês para avaliar efeitos na inflação

BRASÍLIA. O governo está acompanhando com lupa a pressão da alta dos alimentos sobre a inflação, principalmente daqueles que compõem a cesta básica, como açúcar, carnes, trigo (pão) e feijão. Além das elevadas cotações desses produtos em decorrência da entressafra de grãos, os técnicos da área econômica assistem à alta do dólar, o que poderá representar encarecimento dos custos aos produtores.

E no arsenal para conter os preços dos alimentos, o governo conta com a concessão de novos incentivos fiscais para aumentar a oferta de produtos, a expansão de recursos para o financiamento da próxima safra, os estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a própria crise financeira internacional - que teria o efeito de baixar a inflação, com a redução das importações de alimentos pelos países ricos - são fatores inibidores dos índices de preços.

Renda maior aumenta preço de refeição fora

Diante desses instrumentos, mesmo com a alta da inflação. o governo continua avaliando que a inflação começará a cair ainda este semestre, convicção que levou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a projetar uma queda de dois pontos percentuais no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até abril de 2012, no acumulado em 12 meses.

Embora tenha um aspecto sazonal, o aumento nos preços também está ligado à conjuntura internacional (alta nas commodities) e doméstica. O crescimento da renda aqui e lá fora tem como consequência a expansão das compras de alimentos. No caso brasileiro, destaca-se, ainda, a alimentação fora de casa.

Toda a atenção da equipe econômica está voltada para o início do mês, quando a Conab vai divulgar a projeção de safra. Só aí é que os técnicos terão ideia se haverá oferta para atender ao mercado, sem pressionar a inflação.

Técnicos da área econômica lembram que, em alguns casos, como o do açúcar, o nível dos estoques é satisfatório. Há itens, porém, em que a dependência de importações é intensa. Trigo é o grande exemplo.

Demanda ainda deve continuar firme, diz especialista

Para o professor da USP Geraldo Barros, a alta nos preços dos alimentos também é sustentada pela demanda externa, ligada à excessiva liquidez mundial e ao crescimento de economias grandes, como China e Índia. Por outro lado, há o fator clima, o que deixa incerto o abastecimento de verduras, legumes e frutas.

- É provável que a demanda continue firme, pressionando o preço dos alimentos. O governo já agiu reduzindo a taxa de juros e acena para novas reduções, contribuindo assim para a sustentação da demanda - disse.

Além da redução da taxa de juros pelo BC, que contribui para manter a demanda aquecida, aumentos salariais nas negociações deste semestre e o reajuste do salário mínimo preestabelecido para 2011 são outros fatores de pressão, diz Barros. Ele destaca também que, do lado externo, carnes, grãos e açúcar poderão continuar com preços elevados porque a tendência é que o consumo continue alto.

- Tanto EUA como Europa, por não terem recursos fiscais, vão ter de continuar bombeando liquidez na economia mundial dando sustentação aos preços altos das commodities - afirmou, destacando a tendência de alta do dólar no mercado interno.