Título: Ministro grego reaviva temor de calote
Autor: Fernando Eichenberg
Fonte: O Globo, 24/09/2011, Economia, p. 31

Jornal atribui a Venizelos declaração de que "moratória organizada" é melhor opção

ATENAS e WASHINGTON. A possibilidade de uma moratória da Grécia voltou a assustar os mercados ontem. O jornal grego "Ta Nea" afirmou que o ministro de Finanças do país, Evangelos Venizelos, teria dito a parlamentares socialistas que um calote organizado, no qual os credores perdessem metade de seu dinheiro, era a melhor opção para a Grécia.

Segundo o jornal, o ministro teria dito que um calote de 50% da dívida era o melhor cenário, mesmo admitindo que seria muito difícil para Atenas pedir isso, sendo necessário um esforço coordenado. O temor foi reforçado após o presidente do banco central holandês, Klaas Knot, também mencionar a hipótese de uma moratória grega. Em entrevista a um jornal local, ele disse estar "menos certo que há alguns meses" de que não haverá um calote.

Alemão diz esperar revisão dos termos do acordo

Venizelos teve de vir a público negar a história. Ele disse que a Grécia continua comprometida com os termos do socorro acertado com União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). E que rumores "não ajudam a cumprir nossa tarefa europeia". O premier George Papandreou fez coro. "Como muitas coisas estão sendo ditas e escritas sobre hipóteses, eu ressalto mais uma vez que escolhemos implementar o acordo de 21 de julho", afirmou ele em nota, referindo-se ao segundo pacote de resgate de UE e FMI.

Sobre este pacote, o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, disse que os credores da Grécia podem ter de revisar os termos do acordo.

- Ficaria surpreso se as condições de desembolso da próxima parcela de ajuda mudassem, mas não se as condições do programa adicional mudassem - disse Schaeuble. - Mas antes vou esperar e ver.

O presidente do BC alemão, Jens Weidmann, comentou as declarações de seu colega holandês sobre um calote grego. Segundo ele, "os pacotes de ajuda só ganham tempo, não podem ser uma solução de curto prazo".

Enquanto crescem as especulações sobre uma moratória grega, os Estados Unidos decidiram aumentar a pressão por uma solução para a crise na Europa. Segundo o "New York Times", o governo Barack Obama começou uma intensa campanha para convencer a chanceler alemã, Angela Merkel, e outros líderes do bloco a agirem de forma mais decisiva contra um possível contágio da Grécia.

Obama aumenta pressão sobre UE por solução para crise

Na semana passada, Obama exortou Merkel e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a adotarem ações coordenadas para conter o contágio grego. Essa pressão será renovada este fim de semana, durante o encontro dos ministros de Finanças do G-20 (que reúne as 20 maiores economias do mundo) em Washington. Há quem espere um anúncio significativo ainda no fim de semana. Fontes do governo Obama, porém, disseram que o mais provável é que se estabeleçam as bases para um acordo na reunião dos líderes do G-20 em novembro, na França.

Um analista disse à TV Bloomberg que há cerca de US$20 trilhões, em bancos públicos ou semipúblicos e outras instituições multilaterais, que poderiam ser usados em estímulos à economia. Esses recursos não necessitariam de aprovação de governos e congressos.

Para o economista Kenneth Rogoff, a maior preocupação da Casa Branca em relação à Europa é que a crise se espalhe na região antes das eleições presidenciais nos EUA, no ano que vem.