Título: BC vai revisar para baixo crescimento do Brasil
Autor: Fernando Eichenberg
Fonte: O Globo, 24/09/2011, Economia, p. 31

TURBULÊNCIA GLOBAL: Tombini reafirma que BC não hesitará em intervir no caso de valorização demasiada do dólar

Mantega admite que pode revogar IOF no mercado futuro de câmbio: "Estabelecemos medidas para colocar e tirar"

WASHINGTON. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem, em evento na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, na capital americana, que a autoridade monetária provavelmente vai revisar para baixo sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) este ano. Hoje, o BC prevê expansão de 4%, mas já vinha trabalhando com 3,5%. Tombini também falou sobre a forte valorização do câmbio, reiterando que essa oscilação não representa, por enquanto, uma ameaça maior para a inflação.

- O impacto das variações de câmbio sobre os preços internos tem diminuído ao longo do tempo no Brasil. Vamos avaliar sempre essas condições para fazer com que a inflação se estabilize e convirja com a nossa meta - disse, ao confirmar o índice de 4,5% como meta para a inflação ao fim de 2012.

Tombini reafirmou que o BC não hesitará em intervir no caso de valorização demasiada do dólar:

- Desde o início avisamos que o câmbio flutuante flutua para os dois lados. Neste momento, temos de ver onde esse novo padrão do câmbio internacional vai se estabilizar nos próximos dias ou semanas. Não há redução de linhas de financiamento para exportação, os fluxos reais em dólares para a economia continuam robustos. Se notarmos alguma disfuncionalidade em algum mercado iremos intervir. Temos capacidade para tanto.

FMI defende novas medidas de estabilização para a UE

Presente no evento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que pode revogar a cobrança de 1%, via Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), em derivativos de câmbio:

- Estabelecemos medidas regulatórias para colocar e tirar. Temos vários tributos desta natureza, e o IOF é um deles, podemos tirar e colocar. Estamos sempre olhando todas as possibilidades. Muitas vezes colocamos e depois, quando não é necessário, tiramos. Se eu revelar a prioridade, estarei operando o mercado. Essa análise fazemos no dia a dia, e, de acordo com a necessidade, mudamos o instrumento.

Mantega antecipará sua volta dos EUA, a pedido da presidente Dilma Rousseff. A ideia é que ele participe da reunião de coordenação do governo, no Palácio do Planalto, na segunda-feira.

Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) definiu como o objetivo mais urgente para a Europa a implementação de novas medidas de estabilização para conter a crise de dívida soberana na zona euro.

- Precisamos de uma abordagem global, porque todo mundo é afetado. Ninguém pode dizer: "isso não é comigo" - alertou Antonio Borges, diretor do departamento Europa do FMI.

Mantega endossou as pressões do FMI para que a discussão e aprovação de soluções para os problemas europeus sejam aceleradas, sob o risco de, em caso de demora, a crise se propagar por contágio ao setor financeiro e atingir o Brasil e demais emergentes:

- Temos de estimular os parlamentos europeus, como já estimulamos seus ministros, para que as medidas sejam aprovadas em tempo hábil.

O Brasil, disse o ministro, está disposto, no âmbito dos Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a colaborar com os europeus, fornecendo mais recursos ao FMI.

- Mas é preciso que os europeus digam o que querem.

Os ministros de Finanças do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, se comprometeram a tomar as medidas possíveis para acalmar o sistema financeiro internacional.

(*) Com agências internacionais