Título: Acampados protestam por falta de moradias do Minha Casa Minha Vida
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 25/09/2011, O País, p. 18

Famílias que pressionaram Lula querem ser atendidas em Hortolândia

SÃO PAULO. Dois anos após acampar diante da casa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, para pedir moradia, centenas de famílias do interior de São Paulo voltaram a protestar pela falta de atendimento do Minha Casa Minha Vida. Instalado há cinco dias em barracões em frente à Prefeitura de Hortolândia (SP), um grupo de homens, mulheres e crianças que vivem em áreas invadidas daquela região faz pressão para ganhar uma das 500 casas próprias do programa, disputadas por mais de 7 mil famílias da cidade.

- Em 2009, protestamos na casa do Lula e conseguimos trazer o programa para cá. Fizemos cadastro e nunca mais ouvimos falar. Agora, dois anos depois, o Minha Casa Minha Vida chega com somente 500 unidades, sendo que só 250 foram sorteadas. É muito pouco - queixa-se Michele Rocha da Silva, 22, auxiliar de limpeza desempregada e mãe de dois filhos.

Segundo ela, o único caminho que a burocracia do programa oferece para famílias de baixa renda é a ocupação de áreas de risco. Com isso, a prefeitura faz a remoção, paga o aluguel social e oferece prioridade na distribuição das casas.

- Uma pessoa com renda "zero" só consegue entrar se estiver em área de risco. Eu sou de Hortolândia e estou no acampamento de Sumaré (SP) esperando a solução negociada entre o governo e os prefeitos - disse Michele, que recebia no último emprego cerca de um salário mínimo. - Com isso, ou eu dou comida para os meninos, ou pago um aluguel. Os dois não dá.

Movimento é considerado única esperança

Coordenadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cerca de 300 famílias se instalaram em um terreno abandonado em Hortolândia no mês passado, e aguardam liminar de despejo. De acordo com um dos líderes do movimento, as prefeituras negociaram em novembro de 2009 o atendimento de 235 famílias das cidades vizinhas Hortolândia e Sumaré, mas o acordo não teria sido mantido.

Para Cleuzeulânia Campos, 36, doméstica desempregada, o protesto organizado é a única esperança. Acostumada a viver com os cinco filhos distribuídos em casas superlotadas de familiares, resolveu acampar na prefeitura com o marido e um tio.

- Com uma casa própria, fica mais fácil conseguir emprego. Posso ter meu canto, acho que consigo me curar da depressão e da úlcera nervosa, posso juntar a família. E, principalmente, meus filhos não vão ser tratados como filhos de bandido ou de vagabundo só porque o pai não deu teto - disse.

Com o filho de dez meses no colo, Edicléia de Oliveira, 29, lamenta que a prefeitura só tenha 250 unidades para oferecer em sorteio:

- Sou mãe solteira, sozinha nesta vida. Não quero nada de graça não, quero trabalhar e não depender de ajuda dos outros. Estava lá no acampamento do Lula, prometeram que iam atender, e agora teve esse sorteio, mas nada daquilo foi para nós - disse Edicléia.

De acordo com a vice-prefeita Jacyra Aparecida Santos, não haverá atendimento preferencial para o MTST. O município cadastrou cerca de 7 mil famílias ente março de 2009 e abril de 2010 e não vai modificar as exigências, como a comprovação de residência na cidade há dois anos. Sem comentar a lentidão na execução do programa, ela afirma que a meta é entregar 4,7 mil unidades em dois anos.

- Há pessoas que chegaram aqui há dois dias, não são de Hortolândia. Não sabemos se esse grupo está ou não cadastrado conosco. Primeiro, precisamos identificar as famílias. Mas elas não serão contempladas como movimento - afirmou a vice-prefeita.