Título: Piauí envia amostras de DNA para a Paraíba
Autor: Duarte, Alessandra; Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 25/09/2011, O País, p. 3

Estado conta com 21 peritos e tem 3,6 mil inquéritos parados

PARENTES E amigos de Fernanda Lages, encontrada morta em 25 de agosto, pedem mais rigor na apuração do crime

EM TERESINA, o prédio do Instituto de Criminalística

TERESINA. Alta, de cabelos pretos e vestindo uma roupa elegante como as que vendia em uma loja de grife num shopping de Teresina, Fernanda Lages, de 19 anos, estudante de Direito, foi encontrada morta, às 7h do dia 25 de agosto, no prédio em construção da Procuradoria da República no Piauí. Ela tinha um corte na cabeça e lesões no braço.

Por falta de condições técnicas, os exames de DNA do material biológico encontrado nas unhas e nas roupas de Fernanda, além dos exames para saber se a jovem estava grávida e se tinha mantido relações sexuais antes de ser morta, não foram realizados pelos institutos de Criminalística do Piauí e Médico Legal. O secretário de Segurança, Raimundo Leite, decidiu enviar o material para o Instituto de Criminalística da Paraíba, e a Polícia Federal foi encarregada de encontrar manchas de sangue e outros indícios.

O Piauí tem 21 peritos para atender uma população de 3,1 milhões de habitantes. Em média, vítimas de homicídio e de acidentes de trânsito esperam até três horas pela chegada da perícia.

Pai de Fernanda, o o agropecuarista Paulo Lages Neves, de 46 anos, diz ter ficado surpreso com o fato de o Instituto de Criminalística não ter aparelhos para fazer exames de DNA, e estranhou o fato de o local do crime ter sido alterado antes da chegada dos peritos:

- Se as condições da perícia fossem mais adequadas e os exames pudessem ter sido feitos no Piauí, já poderíamos ter o crime solucionado e com os envolvidos presos. Minha vida já não é mais a mesma, o coração do pai é enterrado com o da filha.

Por conta da falta de provas para solucionar a morte de Fernanda, 300 amigos e familiares fizeram uma manifestação pelas ruas de Teresina. Eles foram até o prédio da Procuradoria da República pedir mais rigor na apuração do crime.

Coordenadora do Instituto de Criminalística, Maria dos Remédios Lima do Nascimento admite que o estado está "muito aquém da necessidade da demanda".

- Não dá para acompanhar o ritmo de violência, de modo algum. Não podemos fazer exames de DNA por falta de equipamentos e laboratórios. E o exame é imprescindível - diz Maria, lembrando que um levantamento mostrou a necessidade de contratação de 88 peritos para descentralizar a perícia criminal de Teresina.

O Instituto funciona em um prédio deteriorado no centro de Teresina, com equipamentos embalados nos corredores por falta de espaço. O governo do Piauí, com financiamento do governo federal, está construindo há seis anos um novo prédio.

Levantamento feito para a 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Piauí pela Secretaria de Segurança apontou que 3,6 mil inquéritos de Teresina estão parados nas delegacias por falta de exames complementares e novas diligências. São processos relativos a homicídios, latrocínios, roubos e furtos.