Título: Machado não pode errar novamente
Autor: Pires, Luciano; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 27/08/2009, Economia, p. 16

Apontado como maior responsável pela crise no Fisco, secretário corre o risco de cair

Nelson Machado indicou Lina Maria Vieira para a chefia da Receita e todos os superintendentes que comandaram a rebelião no órgão. Agora, torce para as mudanças darem certo

Apontado como o principal arquiteto das mudanças ocorridas na Receita Federal nos últimos dois anos, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, está sob observação do Palácio do Planalto. Apesar de ainda ter crédito com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Machado é visto como um conselheiro que não pode mais errar.

Fundador do PT, ex-ministro da Previdência Social e tido como um técnico competente, Nelson Machado ganhou notoriedade por ter indicado Lina Maria Vieira para a chefia do Fisco e parte da equipe que agora deixa os principais cargos de confiança ou chefia no órgão. Servidores veteranos atribuem a Machado o aparelhamento sindical que tanto desarticulou as ações do órgão.

A renovação dos quadros estratégicos da Receita não é uma decisão isolada do novo secretário Otacílio Cartaxo. De acordo com auditores da Receita, algumas indicações feitas pelo chefe do Fisco passaram por Machado. Ao contrário da primeira interferência, no entanto, desta vez, a confirmação dos titulares passa antes por um rigoroso levantamento da ficha funcional do servidor. ¿Eles não querem mais colocar tanta gente atrelada ao sindicato¿, reforçou um técnico do Fisco.

Na guerra de bastidores que antecedeu a confirmação de Cartaxo à frente da Receita, Machado acabou vencido. Os técnicos da preferência do secretário executivo eram o subsecretário de Gestão Corporativa, Odilon Neves Júnior, e Valdir Simão, presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Simão era a primeira opção para o lugar de Jorge Rachid ¿ antecessor de Lina Vieira ¿, mas Machado desistiu por achar que a nomeação de alguém da Previdência traria uma reação negativa ao Fisco. Mesmo depois da criação da Super-Receita, as duas categorias ainda divergem.

Exonerado se diz tranquilo

Deco Bancillon

Um dos técnicos da Receita que pediram exoneração do cargo disse ao Correio que está tranquilo, mas que ainda não sabe o que vai fazer a partir de agora. Marcelo Lettieri, ex-coordenador de Estudos e Análise da Receita, foi um dos 12 auditores que assinaram a carta de exoneração entregue a Otacílio Cartaxo. ¿Estou voltando para Fortaleza, onde estava antes de assumir. Ainda não sei o que vou fazer lá. Ainda não me passaram nada¿, explicou.

Sobre as mudanças na Receita Federal, Lettieri foi lacônico: ¿As maiores mudanças são para os estados. Mas não sei se para melhor. Não conheço as pessoas para dizer se são boas ou más¿. Ele afirmou estar tranquilo mesmo depois de tudo o que aconteceu. ¿Feliz? Não. Só tranquilo mesmo¿, completou. A portaria de exoneração de Lettieri foi publicada no Diário Oficial da União de terça-feira. Depois dele, outros auditores também entregaram os cargos.