Título: Ahmadinejad ataca Ocidente e defende programa atômico
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 23/09/2011, O Mundo, p. 34

Brasil fica na sala enquanto delegações deixam o plenário do presidente do Irã durante mais um discurso polêmico

AHMADINEJAD DISCURSA na Assembleia Geral: Hugo Chávez ajudou a mediar libertação de americanos presos no Irã

NOVA YORK. Horas antes de fazer mais um polêmico discurso na Assembleia Geral da ONU, levando as delegações dos EUA e de países europeus a deixarem o plenário, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, garantiu que o país sempre foi transparente em seu programa nuclear. No discurso de meia hora, sobraram ataques a EUA, Europa e Israel, e Ahmadinejad voltou a pôr em dúvida o Holocausto. Nenhuma palavra foi dita sobre o controverso programa nuclear iraniano, que acabou sendo discutido numa entrevista dele a Nicholas Kristof, colunista do "New York Times".

- Agimos conforme as regras - disse o presidente do Irã. - Todas as nossas instalações sempre foram transparentes, estão abertas aos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), e nelas há câmeras da AIEA para monitoramento.

O presidente garantiu ainda que está pronto a abandonar o enriquecimento de urânio no Irã, caso países ocidentais entreguem urânio enriquecido a 20% para consumo interno. A declaração, no entanto, mostra a batalha pelo poder dentro do governo iraniano. O plano, que havia sido defendido por Brasil e Turquia no ano passado, já teria sido vetado pelo líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Além disso, no mês passado, o chefe do programa nuclear do país, Fereydoon Abbasi-Davani, disse que o plano "já não era mais possível".

Mesmo enfraquecido dentro do governo, Ahmadinejad fez um de seus tradicionais discursos anti-Ocidente, culpando EUA, Europa e Israel pela atual crise econômica mundial, e acusando o Ocidente de usar o Holocausto como desculpa "para dar apoio a Israel na opressão contra palestinos".

- Eles ameaçam todos aqueles que questionam o Holocausto e o 11 de Setembro com ações militares - disse, qualificando os ataques de "misteriosos", e questionando a decisão de matar Osama bin Laden, em vez de levá-lo a um tribunal. - Há algum segredo que precisava continuar secreto?

Nesse momento, a sala, que já não estava lotada, ficou praticamente vazia. O Brasil não se retirou. Segundo o porta-voz da missão, representantes nunca deixam a sala, pois o "Brasil acredita que o plenário da Assembleia Geral é um espaço democrático, para cada um se expressar".

As chancelarias de Irã e Venezuela confirmaram ainda que o presidente Hugo Chávez, que é amigo de Ahmadinejad, ajudou a mediar a libertação dos dois americanos presos no Irã e libertados na quarta-feira.

COLABOROU: Fernanda Godoy, de Nova York