Título: Com alta do dólar, pão francês terá aumento entre 5% e 10% em outubro
Autor: Rosa, Bruno; Ribeiro, Fabiana; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 23/09/2011, Economia, p. 28

Segundo Abima, macarrão e pão de fôrma também vão ficar mais caros

PADARIA NO Rio: metade das 10 milhões de toneladas de trigo por ano são para produzir pão francês

Bruno Rosa, Fabiana Ribeiro e Ramona Ordoñez economia@oglobo.com.br

O aumento na cotação do dólar vai elevar o preço do pão francês já no início de outubro. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o aumento será entre 5% e 10%. Já o macarrão e o pão de fôrma terão na próxima semana alta de 5%, informou a Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima).

O Brasil importa hoje 60% do trigo que consome. Cerca de 70% do custo da farinha de trigo vem de sua principal matéria-prima, o trigo. Das dez milhões de toneladas de trigo consumidas por ano no país, metade é usada para a fabricação do pão francês. Os 30% restantes vão para macarrão, biscoitos e pão de forma.

- O repasse é rápido porque os estoques duram entre sete e dez dias. Na padaria, o aumento nos preços vai variar entre 5% e 10%, pois cada empresa tem um determinado nível de estoque e exposição cambial - diz Christian Saigh, diretor da Abitrigo.

Claudio Zanão, presidente da Abima, diz que não há como segurar a alta do dólar:

- A alta do dólar foi repentina. No fim deste mês, já haverá o repasse - diz.

Com estoque alto, varejo consegue manter preço

No varejo, a situação é um pouco diferente. Os estoques e as negociações feitas com antecedência estão permitindo que parte do comércio segure os preços. Na rede Lidador, os importados não ficaram mais caros por causa da oscilação do câmbio. Mas, com as encomendas de Natal ainda em aberto, manter os preços ainda é uma dúvida.

- Vamos segurar o máximo. Se o câmbio ficar nesse novo patamar por um período mais longo, seremos obrigados a repassar para o consumidor - disse Bruno Pereira, consultor de vendas da Lidador do Rio Sul.

Segundo Pietrângelo Leta, diretor do Zona Sul, a ordem é segurar os preços. Somente uma sustentação do câmbio no atual patamar elevado provocaria uma mudança de preços nos produtos vendidos pela rede:

- Uma alta do dólar por mais tempo traria impactos nos importados e também numa série de produtos que são influenciados pelo câmbio. Não acreditamos nesse cenário.

As estimativas de preços da importadora Terramatter também não foram inalteradas.

- A Terramatter trabalha com um estoque anterior a essa alta do dólar e não fará qualquer alteração de preço até o fim de 2011 - disse Sami Abrão, sócio-diretor da Terramatter.

Apesar dos custos até 20% maiores apenas em setembro, a italiana Onda Mobile, fabricante de celular, ainda não repassou a alta para o varejo.

- Vamos reduzir margem, mas, até quando der, vamos segurar - disse Vicenzo di Giorgio, presidente da companhia.

Enquanto a indústria tenta segurar suas margens, o brasileiro com viagem marcada para o exterior deve comprar dólares aos poucos, segundo especialistas em finanças, para diluir o sobe e desce da divisa.

- Quem não gosta de correr risco, é bom comprar aos poucos - diz Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ.

As altas das cotações da moeda americana nos últimos dias não afetaram a defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras porque, ao mesmo tempo, os preços desses dois combustíveis também têm tido queda no exterior.

Segundo cálculos feitos pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a gasolina vendida pela Petrobras no país está 19,2% mais barata em relação aos preços cobrados no Golfo do México, do lado americano. Já o óleo diesel está sendo vendido pela companhia 18,5% mais barato. Nos últimos dias, o valor do barril cai, enquanto que a gasolina já registrou uma redução da ordem de 6% nos últimos 30 dias no mercado americano.