Título: Aumento de IPI para carro importado pode impedir novos investimentos
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 01/10/2011, Economia, p. 33

Alerta, feito em Londres, é do presidente da Câmara de Comércio Brasil-China

LONDRES. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, que participou ontem em Londres de um seminário da revista britânica "Economist", criticou a decisão do governo brasileiro de aumentar as alíquotas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis importados. Segundo o executivo brasileiro, que falou a uma plateia de empresários e executivos, a decisão ameaça a instalação de cinco montadoras chinesas no Brasil.

- O aumento está simplesmente proibindo que novos investimentos sejam feitos no Brasil. No caso das montadoras, a entrada dos carros chineses estava melhorando o mercado brasileiro em termos de qualidade e de preço, mas agora as empresas simplesmente não vão querer investir - afirmou Tang a jornalistas, calculando uma perda de investimentos potenciais de pelo menos US$2 bilhões no setor.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do mesmo seminário e defendeu a medida do governo brasileiro.

Great Wall já decidiu suspender projeto

Na quarta-feira, por exemplo, a Great Wall, uma das principais montadoras chinesas, anunciou a suspensão das negociações para a entrada no mercado brasileiro, numa reação à elevação de 30 pontos percentuais no IPI. Citando conversas que teve com empresários chineses, Tang disse que o governo chinês em breve se queixará ao brasileiro. Mas disse descartar de uma possível disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC).

- Foi sem protecionismo que o Brasil se beneficiou imensamente de suas relações comerciais com a China, que não só deram superávit ao país mas nos ajudaram a pagar quase toda nossa dívida externa. A presidente Dilma recentemente esteve na China e pediu que a China produzisse menos para investir mais no Brasil, mas essa medida está enxotando riqueza do país - disse Tang.

Há dois dias, a presidente da República Dilma Rousseff defendeu a alta do IPI como um mecanismo de proteção a empregos e de incentivo a instalação de fábricas no Brasil, em vez de o país apenas exportar os veículos. Uma iniciativa que seria recompensada com uma alíquota diferenciada de IPI de acordo com planos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. No entanto, o regime diferenciado estaria condicionado à produção de carros com 65% de componentes fabricados no Brasil, o que as montadoras chinesas consideram inviável a médio prazo.

- Trata-se de um nacionalismo anti-nacionalista. Há uma incongruência do governo brasileiro de restringir a participação de estrangeiros no setor automotivo ao mesmo tempo em que dá incentivos para a indústria de tablets - argumentou Tang.

Lula, no entanto, fez coro à presidente Dilma Rousseff. Ainda que em sua palestra no seminário Lula tenha classificado de excepcional as relações entre Brasil e China e de normais as divergências em tópicos como a política cambial, o ex-presidente disse que o aumento do IPI de automóveis importados ajudou a equilibrar o mercado automobilístico no Brasil. E acrescentou:

- Estávamos com quase um milhão de carros importados, e a nossa indústria iria ter problemas. Mas não quebramos nenhuma regra da OMC - afirmou Lula durante o evento.