Título: Dilma e Mantega indicam novos cortes de juros
Autor: Rodrigues, Lino; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 01/10/2011, Economia, p. 31

TURBULÊNCIA GLOBAL: Presidente afirma que, se situação global se agravar, país poderá aproveitar oportunidades

Ministro diz que medida "não custa nada". Outra opção seria mexer nos depósitos compulsórios dos bancos

SÃO PAULO. A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicaram ontem a disposição do governo de avançar no processo de redução das taxas de juros no país, movimento favorecido pelo ambiente externo adverso. Em discurso a empresários, durante seminário promovido pela revista "Exame", Dilma disse que, caso a situação financeira global se agrave, o Brasil poderá aproveitar as oportunidades que surgirem. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que decidirá os juros será nos dias 18 e 19 de outubro.

- Nós estamos abrindo espaço para que o Banco Central, diante da crise, possa iniciar um ciclo cauteloso e responsável de redução da taxa básica de juros - disse ela.

No mesmo evento, Mantega disse que o país dispõe hoje de muita munição para enfrentar eventuais choques financeiros e que é prudente ter medidas preventivas para enfrentar uma piora da crise global. Mas ressaltou que dará preferência a estímulos monetários, como o corte dos juros - que, segundo ele, "não custa nada" e ainda alivia o peso da dívida pública. Mudanças nas regras dos depósitos compulsórios dos bancos, disse, são outra alternativa:

- É prudente que tomemos medidas preventivas. Não vamos esperar o pior acontecer e estamos preparados para novas ações. O Brasil goza de confiança no mercado internacional - disse Mantega.

No seu discurso, que durou 50 minutos, Dilma disse ainda que é inadmissível o país errar na condução de sua política monetária e que o processo de redução dos juros terá a ressalva de acontecer dentro "do que for possível" em um cenário de crise global. E lembrou que crise e oportunidades sempre andaram juntas:

- Esta é nossa hora de oportunidades, não para se aproveitar do sofrimento de ninguém, mas para construir e ocupar o lugar que merecemos - disse Dilma, frisando que a crise "ameaça todo o mundo".

Inflação: Brasil está "tão bem quanto outros emergentes"

Dilma ressaltou que, apenas da situação mais confortável, o Brasil não é uma ilha:

- Estamos alertas porque sabemos que a redução do ritmo da atividade e do emprego geralmente são acompanhados do processo recessivo. Mas temos coragem e ousadia para atuar de forma prudente.

Prova disso, afirmou, é que o governo federal tem se empenhado na execução do superávit primário. Mantega fez coro e destacou o fato de 75% da meta de superávit estabelecida para este ano já estarem cumpridos.

Sobre a inflação, principal foco de preocupação do governo e do mercado hoje, Mantega afirmou que o Brasil está "tão bem, ou melhor, que os outros países emergentes".