Título: Execução de juíza seria um grande favor
Autor: Werneck, Antônio; Barreto Filho, Herculano
Fonte: O Globo, 01/10/2011, Rio, p. 22

Outro cabo preso pela morte da magistrada depõe e diz que tenente-coronel deu sinal verde para a execução

A situação do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo) e do 22º BPM (Maré), ficou ainda mais complicada com o depoimento de um segundo cabo da PM, preso acusado de participação na morte da juíza Patrícia Acioli. O policial, que trabalhava no 7º BPM, em depoimento ontem à tarde ao juiz Peterson Barroso Simão, da 3ª Vara Criminal de Niterói, fez novas revelações: disse ter ouvido do tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes, que também está preso, que o tenente-coronel aprovou o assassinato da juíza. Segundo o cabo, Benitez contou que, ao saber do plano, o oficial deu sinal verde: "Você me faria um grande favor", teria dito Cláudio, referindo-se ao assassinato da juíza.

No depoimento, que durou cerca de duas horas e mobilizou um grande aparato de segurança, o cabo contou ainda que o plano discutido pelo grupo de policiais militares envolvia não apenas a juíza, mas também um inspetor da Polícia Civil lotado no setor de Homicídios da delegacia de São Gonçalo. O inspetor, na opinião dos PMs, distorcia os registros de autos de resistência e deveria "levar um rodo (morrer)". Ainda segundo o cabo, Benitez teria conversado com o tenente-coronel Cláudio sobre o assassinato do inspetor e teria ouvido dele: "Covardia se combate com covardia".

Promotores: não há dúvida da participação de oficial

Para os promotores Rubens Vianna, Leandro Navega, Claucio Cardoso e Daniel Faria Braz, do Ministério Público estadual, que estavam presentes ao depoimento, não há mais dúvida de que o tenente-coronel participou do plano, aprovando o assassinato da juíza.

- O depoimento do cabo acrescentou detalhes importantes sobre a participação do tenente-coronel e dos outros envolvidos. Estou convencido da participação do oficial e de que o crime tem raízes no passado - disse o promotor Rubens Vianna, da 7ª Promotoria de Investigação Penal.

O depoimento começou por volta das 16h, com a presença do advogado Manoel de Jesus Soares, que defende o tenente-coronel Cláudio. Na sala do juiz, ainda estavam presentes defensores públicos e o advogado Fernando Praxedes, representantes da OAB de Niterói. A delegada Martha Rocha, chefe de Polícia Civil, também chegou ao Fórum de Niterói, mas não entrou.

O cabo chegou ao Fórum escoltado por vários policiais civis da Divisão de Homicídios por volta das 14h. Algemado, vestindo bermuda e camisa estampadas, e muito abatido, ele foi levado à sala do juiz depois de atravessar um corredor puxado pelo delegado Felipe Ettore, titular da DH. Logo depois, um grupo de quatro policiais civis entrou no gabinete do juiz Peterson com quatro caixas grandes onde estavam 15 volumes do inquérito que apura o assassinato da juíza Patrícia Acioli. O material deverá ser transferido na semana que vem para a sede do Ministério Público estadual.

No depoimento de cinco páginas, o cabo disse que estava arrependido, e confirmou que os policiais militares do 7º BPM tentaram executarem a juíza em pelo menos duas outras ocasiões. Também afirmou várias vezes que o tenente Benitez e o tenente-coronel era íntimos e muito amigos. Num dos trechos, o cabo deixou claro que o comandante do 7º BPM não gostava da juíza. O coronel, segundo o cabo, teria dito que se ordens da juíza não fossem escritas, ele não cumpria". Uma desses pedidos de Patrícia Acioli era manter fora das ruas (em atividade interna) policiais militares envolvidos em ocorrência de autos de resistência.

Também no depoimento, o cabo revelou que cada policial do GAT recebia entre R$10 mil e R$12 mil semanalmente de propina. O dinheiro era o resultado do recolhimento de drogas e dinheiros "roubados" dos traficantes que atuam nas favelas de São Gonçalo. O recolhimento é conhecido como "espólio de guerra". Afirmou ainda que quando a arrecadação em extorsões era grande, o tenente Benitez separava uma parte do "espólio" para entregar ao coronel Claudio.

Soldado se entrega e diz que deu endereço da juíza

O soldado Handerson Lents Henriques da Silva, de 27 anos, preso temporariamente por envolvimento na morte da juíza, se apresentou ontem de manhã na Divisão de Homicídios (DH) e confirmou à polícia que indicou o endereço dela a outros PMs acusados de envolvimento no crime. Mas afirmou desconhecer o plano para executá-la. A informação foi dada pelo defensor público Leonardo Rosa Melo da Cunha, que vai pedir a revogação da prisão semana que vem.

- A prisão foi desnecessária. A participação do soldado no crime foi e involuntária - disse o defensor.

Segundo o advogado, Lents disse que foi convencido a entrar numa viatura e mostrar onde a juíza morava porque os policiais militares alegaram que estavam investigando uma briga entre Patrícia e o namorado dela, um PM, em janeiro deste ano. Como Lents participou da ocorrência, era o indicado a levá-los ao local.