Título: Lucro da Caixa desaba 54%
Autor: Cristino, Vânia; Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2009, Economia, p. 13

Resultado líquido da instituição no primeiro semestre foi de R$ 1,158 bilhão contra R$ 2,5 bilhões no mesmo período do ano passado

Os números do balanço estão dentro do que foi negociado com o Ministério da Fazenda e mostram que a instituição tem conseguido tornar viável a união entre o social e o comercial¿ Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da CEF

Na contramão do sistema financeiro, que, mesmo com o baque da crise mundial, apresentou ganhos crescentes, o lucro da Caixa Econômica Federal desabou no primeiro semestre deste ano. O resultado líquido da instituição caiu 54%, de R$ 2,5 bilhões, registrados entre janeiro e junho de 2008, para R$ 1,158 bilhão em igual período deste ano. Pressionado pelo governo para emprestar mais e a juros menores, o banco se viu obrigado a elevar a provisão para créditos de liquidação duvidosa. O risco de calote aumentou muito. Na divulgação do balanço, em São Paulo, a direção da Caixa informou que as provisões deram um salto de R$ 2,5 bilhões, de R$ 5,4 bilhões para R$ 7,9 bilhões.

Apesar de ter conseguido aumentar o resultado do segundo para o primeiro trimestre, o lucro semestral da Caixa destoou de seus principais concorrentes, indicando que o avanço na carteira de crédito nos primeiros seis meses do ano pode não estar se dando com a segurança desejada. O Banco do Brasil, por exemplo, conseguiu fechar o semestre com lucro líquido de R$ 4,014 bilhões, quase 1% acima do verificado em 2008, mesmo seguindo as orientações do Palácio do Planalto para botar o pé do acelerador. Já o Itaú Unibanco avançou 12%, o Santander, 13%, e Bradesco, 2,8%.

Mesmo com o tombo no lucro e o risco maior de calote, a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, comemorou. ¿Os números do balanço estão dentro do que foi negociado com o Ministério da Fazenda e mostram que a instituição tem conseguido tornar viável a união entre o social e o comercial, desempenhando bem o seu papel de banco público, principalmente nas atividades de transferência de benefícios e bancarização da população de baixa renda, sem deixar de lado a eficiência e a concorrência do mercado¿, disse.

Casa própria Os executivos da Caixa garantiram que o lucro observado nos primeiros seis meses deste ano está alinhado com a decisão estratégica da empresa de atuar no mercado com as menores taxas de juros e, com isso, expandir de forma sustentável suas operações de crédito. A oferta de empréstimos e financiamentos da Caixa realmente cresceu acima do mercado: 56,1% ante os 19% registrados na maior parte dos bancos. Foi o maior percentual de expansão da carteira da instituição nos últimos 15 anos. A carteira total somou R$ 99,2 bilhões.

O avanço da carteira foi puxado pelo crédito para a casa própria. A Caixa liberou R$ 17,4 bilhões entre janeiro e junho, saldo 90% maior do que o computado no primeiro semestre de 2008. Nas contas do vice-presidente de governo do banco, Jorge Hereda, esse dinheiro foi suficiente para financiar 351 mil moradias novas e usadas. A perspectiva do executivo é de que, até o fim do ano, os empréstimos habitacionais somem R$ 39 bilhões.

Empréstimos No crédito comercial, voltado para a produção, a evolução foi mais modesta. As contratações cresceram 41,2% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 42,5 bilhões. Para as pessoas físicas, os empréstimos atingiram R$ 20,8 bilhões no semestre, valor 34,6% superior ao mesmo período de 2008. A inadimplência (atraso superior a 90 dias), segundo a Caixa, caiu nas operações comerciais totais, de 4,5% para 3,9%. O banco não informou, porém, o total de calote da carteira habitacional.

Os ativos totais da instituição atingiram R$ 323,7 bilhões em junho, com crescimento de 22,4% em relação a 2008, com retorno sobre o patrimônio de 17,9%. Já o patrimônio líquido somou R$ 13,5 bilhões. O índice de Basileia, que mede a solidez do banco, chegou ao fim do primeiro semestre do ano em 18,8%, superior ao mínimo de 11% exigidos pelo Banco Central.

O vice-presidente de Controle e Risco da Caixa, Marcos Vasconcelos, disse que, além das provisões para possíveis perdas com crédito, o banco teve que separar em seu balanço R$ 374 milhões para disputas trabalhistas, R$ 216 milhões para perdas com planos econômicos e R$ 303 milhões para despesas com planos de saúde e aposentadorias. Juntas, essas três rubricas impactaram negativamente o balanço da Caixa em R$ 1,216 bilhão.

BC vai enquadrar pastinhas

Deco Bancillon Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 14/8/09 Homem tenta arregimentar clientes na rua: Banco Central quer pôr fim às denúncias de fraude e prejuízos

O Banco Central convocou um grupo de instituições financeiras para uma reunião nesta semana, com o objetivo de discutir a regulamentação dos ¿pastinhas¿, profissionais autônomos que arregimentam pessoas nas ruas, nas empresas e nas repartições públicas para lhes oferecer empréstimos. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ainda não está definido se o encontro será em Brasília ou em São Paulo. ¿É importante ressaltar que daremos todo o apoio ao BC nessa questão, que é grave, não é pequena¿, informou a entidade por meio de sua assessoria de imprensa. Os pastinhas têm sido alvo de um número crescente de queixas no Ministério Público e nos órgãos de defesa do consumidor, por fraudarem operações de crédito e deixarem um rastro de prejuízos no mercado.

Os pastinhas agem, principalmente, em nome de financeiras e promotoras de vendas, que, muitas vezes, têm estruturas maiores do que bancos. As denúncias contra eles começaram há pelo menos dois anos por meio da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf). A entidade formalizou denúncias contra a informalidade dos pastinhas ao Ministério do Trabalho e ao Banco Central. ¿Mas, até hoje, não recebemos qualquer resposta¿, disse o presidente da entidade, Carlos Cordeiro. ¿Se só agora o Banco Central decidiu fiscalizar esses trabalhadores, é bom que faça de verdade, pois a situação está muito complicada. É melhor agir agora do que nunca¿, acrescentou.

Na avaliação do sindicalista, a informalidade do setor e o descaso das autoridades deram espaço para a atuação desses profissionais, que não passam por nenhum tipo de controle. ¿Há cerca de 15 anos, tínhamos mais de 1 milhão de pessoas trabalhando em bancos¿, contabilizou. ¿Atualmente, são menos que 450 mil. Isso permitiu a proliferação de profissionais informais, sem compromissos com as regras do sistema financeiro.¿ Cordeiro explicou que isso não se deveu apenas à modernização dos processos de automação bancária. ¿Mas, também, à terceirização do setor, que acolheu pessoas sem boa qualificação¿, afirmou.

O sindicalista acredita que a informalidade dos pastinhas é endossada pela prática dos bancos de tentarem aumentar suas margens de lucro por meio da ¿precarização¿ dos processos de trabalho. ¿São trabalhadores que, via de regra, ganham um terço do salário de um bancário¿, frisou.