Título: Isenção de IPI pode levar montadoras ao Uruguai
Autor: Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 29/09/2011, Economia, p. 29
Fabricantes de carro importado podem enviar ao país vizinho modelos semiprontos, diz analista
SÃO PAULO. A exceção aberta pelo governo ao isentar os carros "feitos" no Uruguai do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados pode levar a uma corrida das montadoras sem fábricas no Brasil para se instalar no país vizinho. Segundo o economista Ayrton Fontes, da consultoria MSantos, fabricantes de China, Coreia do Sul, Europa e até dos EUA, que hoje exportam seus modelos para cá, podem escolher o Uruguai para operar unidades de montagem, trazendo de suas matrizes os modelos praticamente prontos (CKD, no jargão da indústria), como já fazem hoje as chinesas Liffan e Chery, e a sul-coreana Kia, que foram beneficiadas pela mudança na regra do IPI:
- O Uruguai dispõe de uma estrutura boa para receber importações por meio dos portos de Montevidéu e Colônia, e poderia facilmente receber a montagem CKD, que exige apenas galpões simplificados.
Para Fontes, a exclusão do Uruguai foi mais uma demonstração de "boa vizinhança" do governo brasileiro. Seu impacto para o mercado, porém, deve ser bastante restrito, dada a pequena relevância das importações do Uruguai.
Brasil e Uruguai já têm um acordo comercial para veículos, que isenta do Imposto de Importação (II) carros trazidos de lá, até o limite de 20 mil veículos por ano. Apesar disso, como não atendem os níveis mínimos (60%) de conteúdo nacional do pacote de aumento do IPI anunciado semana passada, esses carros "made in Uruguai" teriam de pagar alíquota maior do tributo.
Agora, o governo brasileiro decidiu afrouxar as exigências de nacionalização às condições do acordo já existente, que é gradual mas está hoje em 35% de conteúdo regional. Por isso, o anúncio da mudança, que ainda precisa ser regulamentada pelo governo, foi bem recebido por duas das três montadoras instaladas no Uruguai. A sul-coreana Kia informou que a medida é importante para manter o planejamento de expansão da sua fábrica uruguaia, que produz os modelos Bongo, hoje com 47% de conteúdo regional.