Título: Convite aos negócios
Autor: Fleck,Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2009, Mundo, p. 18

Em visita a Brasília, presidente Felipe Calderón reafirma interesse de intensificar o comércio com a América Latina para evitar impacto da crise econômica

Enquanto o México, um dos países mais afetados pela crise econômica mundial, ainda sofre os efeitos da turbulência gerada há mais de um ano a partir dos Estados Unidos, o presidente Felipe Calderón já admite que é hora de ¿acelerar a diversificação comercial¿, a exemplo do que fez o Brasil. Em um pronunciamento no Itamaraty, ao lado do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, Calderón assumiu que a ¿dependência fundamental da economia americana¿ deixou seu país mais vulnerável à crise e demonstrou a intenção de fortalecer o intercâmbio comercial com a América Latina, em especial com o Brasil. Lula, por sua vez, garantiu que seu governo está empenhado em consolidar um acordo de livre comércio com o México ¿ embora o Mercosul não permita a seus membros esse tipo de tratado com terceiros.

Os dois presidentes concordaram que as trocas bilaterais, que somaram US$ 7,4 bilhões em 2008 ¿ o equivalente 1,9% do total do comércio brasileiro no ano ¿, podem atingir níveis bem mais altos. ¿É inconcebível, do ponto de vista econômico, que dois países com PIBs sem muita diferença, com renda per capita mais ou menos igual e que somam 300 milhões de habitantes tenham um fluxo de US$ 7,4 bilhões¿, afirmou Lula. ¿A ampliação do comércio gera benefícios para todos. É melhor para o consumidor, que pode escolher melhores produtos por melhores preços. É melhor para os empresários, que podem escolher melhores insumos e ter acesso a outros mercados¿, completou Calderón.

Para o presidente mexicano, o incentivo ao comércio bilateral ajudaria seu país a enfrentar os efeitos de crises como a gerada nos EUA. ¿Como disse o presidente Lula, a dependência de uma só região econômica é inadequada para qualquer nação. Por isso é tão importante que o México acelere sua diversificação comercial com diferentes partes do mundo, principalmente a América Latina¿, disse Calderón. Na mesma linha, Lula afirmou que a crise serviu para mostrar a necessidade de buscar ¿novos parceiros, enriquecer o leque de produtos e internacionalizar as empresas¿: ¿A crise mundial nos deixou um desafio: não só recuperar esses níveis de intercâmbio, mas superá-los, em vista do enorme potencial de duas economias emergentes e altamente dinâmicas¿.

Encontros

Em sua primeira visita bilateral ao Brasil em dois anos e meio de mandato, Calderón passou por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, acompanhado pelos ministros de Relações Exteriores, Patricia Espinosa; Energia, Georgina Kessel; e Economia, Gerardo Ruiz Mateos. Na primeira escala, o presidente mexicano se reuniu com empresários dos setores industrial e de biocombustíveis. No Rio, visitou instalações da Petrobras, como o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, onde assistiu a uma apresentação sobre o pré-sal feita pelo próprio presidente da empresa, Sergio Gabrielli. Em Brasília, assinou acordos de cooperação com o governo brasileiro nas áreas de ciência, tecnologia e promoção do intercâmbio comercial. Lula e Calderón também discutiram temas políticos da região, como a situação em Honduras(1).

O grande interesse, porém, estava mesmo em um amplo acordo de cooperação entre as gigantes petroleiras Petrobras e Pemex, nas áreas de biocombustíveis, refino, petroquímica e gestão. Calderón reafirmou a intenção de que a empresa mexicana ¿aproveite toda a experiência exitosa da Petrobras¿. Lula se mostrou favorável à parceria. ¿Se as duas empresas continuarem, cada uma individualizada fazendo o seu serviço, elas deixarão de ser muito maiores do que poderiam ser se estabelecessem parceria¿, disse.

1 - CORO PRÓ-ZELAYA Após um encontro bilateral no Itamaraty, os presidentes de México e Brasil reafirmaram suas posições contra o golpe de Estado em Honduras. Lula colocou a volta de Manuel Zelaya ao poder como ¿um desafio inadiável¿ de toda a América Latina. ¿Precisamos agir com urgência no marco das resoluções da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de nossas convicções democráticas. Não podemos tolerar nem transigir com atentados à ordem constitucional¿, disse. Já Felipe Calderón, que recebeu Zelaya em seu país pouco antes de o hondurenho vir ao Brasil, lembrou a necessidade de ¿dar apoio às gestões diplomáticas¿ que tentam reverter o golpe. ¿Referendamos as exigências para a restituição da ordem constitucional e o restabelecimento do presidente Manuel Zelaya¿, afirmou.

US$ 7,4 bilhões - Valor total do comércio entre Brasil e México em 2008

US$ 1,1 bilhão - Superávit brasileiro nas trocas bilaterais no ano passado

Conselho suspenso

Viviane Vaz

O governo do Equador, país que exerce a presidência temporária da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), suspendeu ontem a reunião de chanceleres e de ministros da Defesa do bloco, prevista originalmente para o próximo dia 24, em Quito. O encontro deveria discutir o acordo pelo qual a Colômbia está dando a tropas americanas ¿acesso operacional limitado¿ a sete bases militares colombianas. O ministro equatoriano das Relações Exteriores, Fander Falconí, considerou a reunião desnecessária, uma vez que os chefes de Estado sul-americanos decidiram reunir-se no dia 28 em Bariloche, na Argentina, em uma cúpula extraordinária para discutir o tema das bases ¿ na presença do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

Bogotá e Washington sustentam que o pacto é necessário para fortalecer a luta ¿contra o narcotráfico e o terrorismo¿ (a guerrilha das Farc), enquanto os vizinhos latino-americanos criticam a presença militar de uma potência extrarregional. ¿Permitir que os Estados Unidos instalem bases em território da América do Sul é uma traição aos povos¿, declarou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em seu programa semanal de radio e televisão. A ministra de Defesa da Argentina, Nilda Garré, também manifestou ontem seus receios. ¿É muito preocupante a instalação de bases militares estranhas à região na Colômbia¿, destacou.

No esforço para desanuviar o clima na vizinhança, Uribe tenta normalizar relações diplomáticas com a Venezuela e o Equador, que puxaram o coro das críticas. O governo de Quito deu sinais de que aceita a reaproximação, desde que Uribe se comprometa a renunciar a ataques contra as Farc em outros países ¿ como ocorreu em 2008 no Equador. Com a Venezuela, a tensão provocada pelas bases americanas continua escalando. No fim de semana, enquanto Chávez dizia que a normalização é ¿impossível por ora¿, a imprensa colombiana denunciou a prisão ilegal de 41 cidadãos em Caracas, entre eles um agente consular. O incidente foi superado ontem.

O subsecretário do Departamento de Defesa dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Frank Mora, destacou que as operações militares previstas no acordo se limitam ao território colombiano e ¿não têm nada a ver com a Amazônia brasileira¿.

O jornal colombiano El Tiempo adiantou os principais pontos do pacto, que pode ser assinado ainda nesta semana. O texto, fechado no fim de semana, permitirá aos EUA operarem inicialmente em cinco bases aéreas e duas navais, por um período de 10 anos. As bases aéreas são as de Malambo (norte), Apiay (leste), Palanquero (centro), Toleimada (centro) e Larandia (sul), ¿mas haverá acesso a outras, segundo as necessidades e requerimentos¿, diz o texto. As bases navais ficam em Cartagena (Caribe) e Bahía Málaga (Pacífico).