Título: Outros emergentes sofrem mais
Autor: Valente, Gabriela; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 29/09/2011, Economia, p. 27

O analista Cameron Brandt, da consultoria americana EPFR Global, diz que os grandes fundos de investimento internacionais sacaram US$2,19 bilhões do mercado de ações do Brasil nos últimos dois meses, sob temor da inflação e medidas do governo. Mas garante que há outros emergentes em pior situação.

Como está a alocação de recursos dos fundos de investimento globais no mercado brasileiro?

CAMERON BRANDT: Os fundos que acompanhamos (são US$15 trilhões em ativos monitorados) fizeram vendas líquidas (compras menos vendas) de US$2,19 bilhões no mercado de ações brasileiro entre 21 de julho e 21 de setembro deste ano. Esses fundos fizeram no período, por outro lado, compras líquidas de US$93 milhões no mercado de títulos de dívida do país.

E o que os investidores temem no Brasil?

BRANDT: Uma combinação de fatores. Preocupações de que o controle de capital possa tornar mais difícil resgatar o dinheiro do país no futuro, perspectiva mais sombria para commodities no curto prazo, permanentes questões estruturais que resultam em crescimento modesto gerando significativa inflação e preocupações sobre uma bolha de crédito ao consumidor, que surgiu nos últimos três anos. Há também fundos embolsando os lucros.

Os fundos globais fizeram saques em sete das últimas oito semanas no mercado de ações do país. O movimento é pior no Brasil?

BRANDT:Não. O mercado de fundo de ações da Rússia sofreu o maior impacto entre os emergentes. O resultado da perspectiva de mais oito anos de governo Putin (Vladimir Putin é candidato à presidência da Rússia em 2012), inflação entrincheirada e finanças públicas que requerem o barril de petróleo acima de US$ 100 - o que não é provável com a atual situação da economia global - assustou os investidores. Na Índia, questões estruturais também preocupam mais do que o Brasil.

Por quanto tempo a turbulência vai continuar?

BRANDT: Por algum tempo. Os EUA caminham para um ano de eleição presidencial, o que torna ainda mais ilusório um acordo sobre a redução do déficit do país. E poucos apostam em uma rápida solução para a zona do euro. A política nos maiores produtores mundiais de petróleo, no Oriente Médio, segue extremamente incerta. Guerra civil na Síria e na Líbia; esfriamento do acordo de paz de Egito e Turquia com Israel; Irã e sua ambição nuclear.