Título: Estrangeiros tiram US$2 bi do país em dois dias
Autor: Valente, Gabriela; Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 29/09/2011, Economia, p. 27

Movimento maior de entrada de recursos de exportadores compensou forte saída de investimentos externos

BRASÍLIA e RIO. O Brasil teve uma grande virada no saldo de entradas e saídas de dólares na semana passada. Na conta financeira, que inclui aplicações externas em ações e renda fixa (títulos do governo), além de investimentos estrangeiros diretos (setor produtivo), as retiradas de recursos do país superaram os ingressos em US$2,3 bilhões, sendo US$ 2 bilhões só nos últimos dois dias da semana. O rombo no fluxo cambial total - que abrange também a conta comercial, ou seja, exportações e importações - só não foi maior porque, enquanto os investidores externos tiravam dinheiro do país, os exportadores traziam dólares. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central (BC).

O saldo comercial da semana ficou positivo em US$1,887 bilhões. E, com isso, no total, o saldo total do fluxo cambial ficou negativo em apenas US$431 milhões na semana passada. Com a moeda americana em alta, os exportadores entraram no país com recursos que mantinham lá fora, à espera de uma oportunidade no câmbio para lucrarem mais. Até o dia 23 deste mês, os exportadores venderam aos bancos US$20,470 bilhões, US$7,789 bilhões a mais do que foi comprado para pagamento de importações. Em todo o mês de agosto, essa diferença ficou em US$6,667 bilhões.

- Não tinha nenhum grande vencimento de bônus ou outra coisa que identificasse o que aconteceu para sair US$2 bilhões na quinta e na sexta. O que a gente sabe é que a tendência do mês é ficar negativo o fluxo financeiro - diz o especialista da BCG/Liquidez, Alfredo Barbutti.

O mês de setembro vem sendo bastante conturbado no mercado financeiro - com o dólar em alta e a Bolsa em queda, devido aos temores em relação às dívidas públicas na Europa e à especulação no câmbio no país.

O diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, também acredita que a tendência de agora em diante é de saída, com multinacionais aumentando remessas e investidores retirando recursos do Brasil para compensar perdas lá fora.

- Em perspectiva, vemos o fluxo cambial tornando-se negativo para o Brasil, tanto no comercial quanto no financeiro.

Dólar volta a subir e fecha cotado a R$1,837

No mês, esse fluxo financeiro, que inclui ainda empréstimos intercompanhias e remessa de lucros, está positivo em apenas US$295 milhões. É muito pouco se comparado aos US$8 bilhões do saldo geral do mês. O despenho de setembro é o dobro na comparação com o mês anterior. No ano, o resultado acumula quase US$68 bilhões: mais de quatro vezes mais do que o verificado de janeiro a setembro do ano passado.

O dólar comercial interrompeu ontem uma sequência de três quedas e subiu 1,83%, a R$1,837, num dia de estresse com investidores ainda de olho na evolução da crise das dívidas na Europa. A moeda americana acelerou o movimento de alta à tarde, à medida que os mercados dos Estados Unidos e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) aprofundaram a queda. Na máxima do dia, a alta chegou a 2,11%. A alta acumulada no mês é de 15,32% e, no ano, de 10,26%. O dólar turismo avançou 2,10% no Rio, cotado a R$1,94.

Segundo Nehme, falta liquidez no mercado futuro de câmbio e provavelmente o BC terá que atuar novamente, com leilões de swap cambial (equivalente a vendas no mercado futuro).

Bolsa cai 1,21%, com temores em relação à Europa

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, índice de referência, chegou a subir 1,62% de manhã, mas inverteu de tarde e fechou em queda de 1,21%, aos 53.270 pontos.

Em Wall Street, o Dow Jones recuou 1,61%, o S&P 500 perdeu 2,07% e Nasdaq caiu 2,17%. Na Europa, a expectativa de que credores privados poderiam assumir perdas maiores na reestruturação da dívida da Grécia levou Londres a recuar 1,44%; Paris, 0,92%; e Frankfurt, 0,89%.

- O calote da Grécia continua em pauta - diz Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management.