Título: A decepção do caseiro
Autor: Rizzo, Alana; D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2009, Política, p. 3

Pivô do caso Palocci, Francenildo Costa assiste ao julgamento do Supremo com um terno emprestado

Francenildo ao deixar as dependências do Supremo Tribunal Federal: traje escolhido ao sair de casa, em São Sebastião, era inapropriado

Três cadeiras separavam o piauiense de corpo mirrado do representante do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci no Supremo Tribunal Federal (STF). As mãos de Francenildo Costa ficaram atadas durante quase o julgamento todo. As do advogado José Roberto Batocchio não deixavam o jogo de paciência muçulmano ¿ que ¿traz sorte e acalma¿ ¿, trazido de Istambul numa viagem recente de férias. Vez ou outra as mãos, tanto do ex-caseiro quanto do defensor, cobriam a boca.

Na primeira fila, estava o jovem de origem simples que nunca imaginou conhecer a Suprema Corte brasileira. Transformou-se em pivô do caso que derrubou o ex-ministro e teve seu sigilo bancário quebrado, depois de depor na CPI dos Bingos. O depoimento ligava o atual deputado federal a um grupo de lobistas (1)de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Na época, Francenildo era caseiro de uma mansão no Lago Sul onde funcionava a ¿República de Ribeirão Preto¿.

Casado, pais de dois filhos, depois de muita reflexão e conselhos de amigos próximos, ¿quis conhecer a Justiça¿. A decisão foi tomada de última hora. Até o início da semana, temia a exposição. Francenildo chegou ao escritório de seu advogado Wlicio Nascimento, no Lago Sul, por volta das 9h30. ¿Como estava todo arrumado, já sabia que tinha decidido ir¿, disse o advogado. Ainda assim, o traje escolhido por Francenildo ¿ uma camisa social e uma calça ¿, não era apropriado para o julgamento no STF. Então, o advogado emprestou a ele um terno cinza e uma gravata vermelha. Coube perfeitamente. Faltou apenas um detalhe: as meias. Nildo, como é conhecido, preferiu não calçar os sapatos sem elas e, então, manteve as brancas que estava usando.

Piscinas

Francenildo chegou ao STF acompanhado de dois advogados e não quis dar entrevistas. Mas garantiu que estava tranquilo. O ex-caseiro mora em São Sebastião, a 30km do Congresso Nacional. Agora limpa piscinas e jardins de mansões para ganhar a vida. Nunca mais conseguiu emprego de carteira assinada.

O advogado de Francenildo apresentou aos ministros um pedido para ser assistente de acusação. Sabia que juridicamente era impossível. ¿Insisti porque achava que Francenildo tinha que falar. Foi mais um pedido de gentileza¿, afirma, explicando que para ele, nesta ação, existem dois lados. ¿Um, de uma pessoa muito simples e sem condições, e de outro, pessoas credenciadas e reconhecidas¿, disse. Antes mesmo do resultado, sabia que o processo tinha grandes chances de ser extinto.

Francenildo saiu do Supremo sem comentar a decisão. Apenas sinalizou que estava decepcionado. Enquanto José Roberto Batocchio comemorava e planejava para onde iria depois do julgamento: ¿Agora Palocci está zerado¿, disse.

1 - Festas Era denominado ¿República de Ribeirão Preto¿ o grupo de ex-assessores de Palocci de Ribeirão Preto (SP). Segundo o caseiro Francenildo Costa, os amigos do ex-ministro da Fazenda se reuniam em uma mansão no Lago Sul, em Brasília, para participarem de festas. O endereço ficou conhecido como sede da ¿República de Ribeirão Preto¿.

O número 5 Votos dos ministros do Supremo que inocentaram o ex-ministro Palocci