Título: Brasil em Portugal
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 10/10/2011, Economia, p. 22

Há maneiras práticas de o Brasil ajudar Portugal neste momento de dificuldades econômicas daquele país, e uma dessas formas possivelmente será a entrada da Eletrobras como acionista relevante da EDP, uma das maiores companhias portuguesas, do qual o Estado ainda é um dos principais sócios. Eletrobras e EDP já são parceiras em vários empreendimentos no Brasil.

O presidente da Eletrobras, José Costa Carvalho Neto, foi a Lisboa, há duas semanas, conversar com dirigentes da EDP e autoridades portuguesas, e voltou animado. A Eletrobras certamente será bem recebida se passar a integrar o capital da EDP. Nesse caso, poderá ganhar duplamente, pois se beneficiará mais dos investimentos já realizados pela EDP no Brasil, e dará um passo importante no seu projeto de atuar também no exterior. Embora a companhia portuguesa não tenha perspectiva de crescer em seu próprio país nos próximos anos, Eletrobras e EDP podem fazer dobradinha em empreendimentos na África e na África do Sul, por exemplo.

Para disputar os 20% das ações da EDP que o Estado português vai pôr à venda, a Eletrobras está costurando um financiamento junto ao BNDES, sinal que o governo brasileiro vê com muito bons olhos essa operação.

A região de Resende, aos pés das belíssimas e misteriosas Agulhas Negras (já tive a felicidade de subir e caminhar por aquelas alturas), foi pioneira na produção de café no Vale do Paraíba. Quando o ciclo do ouro entrou em declínio, fazendeiros de Minas que garantiam o suprimento de alimentos aos mineradores e aos tropeiros começaram a explorar café no Vale, e Resende foi a primeira vila do Sul fluminense a abrigar uma grande fazenda com a rubiácea (descendentes desses pioneiros levaram o café depois para a região de Ribeirão Preto, em São Paulo). O café também entrou em decadência no Vale do Paraíba no fim do século XIX, sendo aos poucos substituído pela cana-de-açúcar ou a pecuária. A proximidade de grandes centros consumidores (Rio e São Paulo) atraiu para Resende algumas indústrias, após a construção da CSN em Volta Redonda, mas o desempenho do lado fluminense do Médio Paraíba acabou ficando muito aquém do que aconteceu do lado paulista - especialmente a partir da instalação lá de empresas como Embraer, GM, Ericsson nos anos 70 e 80. O mito de que os lugares onde pisam a bota do soldado e a pata do boi não se desenvolvem (e Resende tem os dois) parecia se confirmar na região, mas felizmente isso mudou 180 graus a partir da chegada da VW Caminhões, hoje MAN, e de uma sucessão de novas fábricas a partir de 1995. Esse processo atinge um novo patamar com o investimento da Nissan e a expansão dos que já lá se instalaram (Peugeot/Citroën, Michelin, a própria MAN).

Esse cenário reforça o projeto do trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo, parando, por exemplo, em Resende.

O índice de coleta e tratamento de esgotos nos municípios da Região dos Lagos atendidos pela concessionária local (a Prolagos, hoje controlada pelo grupo Equipav, originalmente do interior de São Paulo) já atingiu 71%. Duas das cinco estações de tratamento (em São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande) possuem um sistema de tratamento que permite o reuso da água para fins industriais ou qualquer outra atividade que não o consumo humano.

Esse índice elevado só foi possível devido a um acordo com os órgãos concedentes em 2002 que levou a Prolagos a interceptar os esgotos na rede pluvial. Até então, o esgoto acabava sendo despejado na Lagoa de Araruama por essa rede, que só deveria carregar água das chuvas.

A distribuição de água potável chega a 91% dos domicílios e o maior desafio da concessionária é o verão, quando a população flutuante chega a 1,6 milhão de pessoas, que se soma aos 400 mil habitantes permanentes. Na alta estação, as elevatórias e a pressão da água precisam ser calibradas para que a água chegue a todos os domicílios. É um atendimento que deve se mostrar seguro de modo a conquistar confiança da população, acostumada a armazenar água em grandes cisternas (prática condenada pela concessionária, porque oferece risco á saúde). O presidente da Prolagos, Carlos Roma Jr., é um executivo especializado em infraestrutura (administrou concessões rodoviárias da Equipav no Rio Grande do Sul, por exemplo) que geralmente passa seus fins de semana em uma cidade próxima a São Paulo. No verão, a família terá de fazer o caminho inverso, e passar todos os fins de semana na Região dos Lagos, pois ele estará de plantão. O que não é nada mau, desde que se consiga evitar os horários de pico nas estradas que ligam o Rio a Cabo Frio/Búzios/Araruama.

Além do consumo residencial e comercial, é bem provável que haja considerável aumento na demanda por serviços de água e esgoto com a chegada de indústrias leves e companhias de logística ao distrito que está se formando nas proximidades do aeroporto de Cabo Frio, estendendo-se ainda por Arraial do Cabo.

Há poucos dias o grupo Libra comprou a concessão do aeroporto - na primeira operação de venda entre concessionários privados no Brasil - de olho no crescimento do movimento de cargas na região. O aeroporto vêm servindo de retaguarda para plataformas de petróleo nas Bacias de Campos e Santos.

O grupo Equipav também administra alguns terminais rodoviários. O presidente do grupo, Hamilton Amadeo, relata um fenômeno curioso: esse é o único segmento de negócios em infraestrutura que tem regredido no país, com queda de movimento. E ainda não se encontrou explicação segura para o que está acontecendo, pois todos os fatores estudados (concorrência dos aviões, uso do automóvel etc.) respondem apenas em parte, e mesmo a soma de todos não permite se chegar a uma conclusão.

Era de se esperar, por exemplo, que o número de viagens de ônibus entre Campinas e São Paulo aumentasse com a economia mais aquecida. mas elas diminuíram...