Título: Buratti: Palocci faz parte do passado
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2009, Política, p. 4

Advogado paulista que deu início ao escândalo envolvendo o petista diz não se importar com a situação do ex-amigo

São Paulo ¿ O ex-assessor de Antônio Palocci, Rogério Buratti, passou a tarde de ontem acompanhando pela internet o julgamento do ex-amigo no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar da curiosidade com o resultado do julgamento, o advogado, que foi braço direito do ex-ministro da Fazenda, disse não ter qualquer interesse na vida de Palocci e que ¿pouco importava¿ o voto dos ministros do STF. ¿O Palocci faz parte do passado¿, afirmou ontem ao Correio.

Palocci e Buratti eram amigos íntimos na época em que o ex-ministro administrava o município de Ribeirão Preto (SP). Chegou a assumir a Secretaria de Finanças por quatro anos. A relação dos dois azedou quando se tornou pública a participação do homem forte de Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo do mensalão. Coube a Buratti acusar Palocci de receber R$ 50 mil mensais de propina da empresa Leão&Leão entre 2001 e 2004. Em troca, segundo disse Buratti em depoimento, a empresa era favorecida em licitações da prefeitura. Foi essa denúncia que derrubou Palocci do governo Lula.

Segundo Buratti disse à época, o dinheiro da propina seria usado para abastecer caixa 2 de candidatos do PT. Palocci negou ter recebido dinheiro de empreiteiras e criticou a divulgação das informações pelo Ministério Público. As acusações nunca chegaram a ser provadas judicialmente. Mas a quebra de sigilo telefônico de Buratti, feita pela CPI dos Bingos, mostra que ele fez diversas ligações para Palocci em 2004, quando ele já era ministro. Palocci nega ter conversado com Buratti. Em junho de 2007, o delator retirou as acusações contra Palocci.

Propina

Em 2004, Buratti voltou a ter o nome associado a mais um escândalo. Ele foi citado numa gravação em que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz cobra propina para a renovação de contrato entre a empresa GTech e a Caixa Econômica Federal. A GTech acusa Buratti de fazer extorsão em nome de Palocci. Ele nega tudo.

Na quebra do sigilo telefônico de Buratti na CPI dos Bingos, ficou provado que ele ligou diversas vezes para a cafetina Jeane Mary Córner (1), que costumava agenciar garotas de programa para políticos em Brasília. Atualmente, ele ocupa o seu tempo dando consultorias e advogando no escritório que mantém em Belo Horizonte. Ontem, não quis comentar o envolvimento de Palocci no episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. ¿Não tenho nada a ver com isso¿, frisou.

1 - Promotora de eventos Acusada de participar do escândalo do mensalão por supostamente ter recebido dinheiro do publicitário Marcos Valério, Jeany Mary Córner foi apontada como organizadora de festas com a participação de garotas de programa e políticos em um luxuoso hotel de Brasília. À época, Mary Córner negou as acusações e disse que as contratadas eram recepcionistas. Quando era chamada de cafetina, ela afirmava: ¿Sou promotora de eventos¿. Depois do escândalo, ocorrido durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a promotora de eventos se mudou para São Paulo.

TRÊS PERGUNTAS PARA ROGÉRIO BURATTI, EX-ASSESSOR DE ANTONIO PALOCCI

O senhor está acompanhando o julgamento de Palocci no STF? Estou vendo pela internet e lendo algumas coisas que saem na imprensa.

O senhor tem um palpite para o resultado? Não estou interessado. Pouco me importa o resultado.

Mas o senhor disse que está acompanhando pela internet... As notícias estão em todos os sites.

O senhor acusou o Palocci de corrupção. Não quero falar sobre isso. O Palocci faz parte do passado.