Título: Ministério contesta estudo sobre desmatamento
Autor: Sorima Neto, João
Fonte: O Globo, 10/10/2011, O País, p. 10

Pasta alega que foi incluído período anterior às unidades

SÃO PAULO. O Ministério do Meio Ambiente contestou os dados que mostram aumento no desmatamento nas áreas de Unidades de Conservação da Amazônia Legal entre 2000 e 2010, publicados pelo GLOBO na última sexta-feira. Em nota, o ministério argumenta que a maioria das unidades foi criada a partir de 2004 e que o levantamento abrange um período anterior aos decretos. "A matéria considerou como desmatamentos em Unidades de Conservação áreas desmatadas antes que elas se transformassem em UCs", diz a nota.

O levantamento do Projeto Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), utilizado pelo GLOBO, monitora o desmatamento na Amazônia Legal e considera as áreas de floresta originais dos espaços geográficos. Os dados revelam ano a ano a situação de desmatamento. O período escolhido para o levantamento foi o de 2000 a 2010, a década em que a necessidade de preservação e de uso sustentável dos recursos naturais mais ganhou repercussão no Brasil e no mundo.

Mesmo considerando apenas o período de 2004 a 2010, sugerido pelo ministério, o desmatamento continua presente. Nesses seis anos foram desmatados 2.595,8 quilômetros quadrados de florestas nas 132 Unidades de Conservação federais na Amazônia Legal, o que corresponde a 22,6% do total de mata desflorestada - o que não é pouco se for levado em conta, portanto, que antes não existiam decretos e regras a serem cumpridos.

Ministério diz que criação de floresta evitou ocupação

Em sua nota, o ministério ressalta que a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, criada em 2006, evitou a consolidação da ocupação. "A região onde foi criada a Flona (Floresta Nacional) chegou a registrar aumento de 500% na virada do milênio. A situação foi revertida após a criação da unidade".

Os números mostram que, mesmo depois da criação, em 2006, o Inpe segue registrando desmatamento na Flona Jamanxim. Entre 2006 e 2010, a área desflorestada registrou incremento de 403 quilômetros quadrados - o que equivale a 3,2% da área total. Incluindo tudo o que foi devastado até 2005, sem qualquer regra, a área havia sido comprometida em 6,5% do total. Hoje, chega a 9,8%.

O GLOBO ouviu representantes do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, e ambos admitiram deficiências na implementação das unidades, mas ressaltaram a importância da sua criação, a partir de 2004.

O ministério ressaltou em nota que foram feitas centenas de ações de fiscalização nas UCs nos últimos dez anos e que o Ibama aplicou mais de três mil autos de infração, que somam mais de R$250 milhões.