Título: Casa nova para Edmar Moreira
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2009, Política, p. 6

Sem legenda durante seis meses, o deputado mineiro mergulhado em denúncias de irregularidades acerta uma discreta filiação ao PR

Edmar foi absolvido no Conselho de Ética: verba indenizatória para salvar empresa dele mesmo

Conhecido por ostentar um castelo milionário no interior de Minas Gerais, o deputado Edmar Moreira está de casa política nova. Depois de passar mais de seis meses sem legenda, filiou-se ao PR. Um texto na página de internet do partido passou quase desapercebido. Moreira optou pelo PR incentivado pelos colegas mineiros. O padrinho da filiação é José Santana (PR-MG).

O deputado não teve uma recepção calorosa graças à extensa lista de denúncias que arrasta para dentro do partido. O parlamentar mineiro respondeu a processo no Conselho de Ética por ter gastado 80% da verba indenizatória a que tinha direito mensalmente, ou R$ 230,6 mil, para sanear as próprias empresas de segurança privada.

Além disso, ele é acusado de sonegar cerca de R$ 50 milhões referentes ao não recolhimento de ISS dos funcionários de suas empresas por dois anos. Os dois processos correm na Justiça. O deputado nega a sonegação. O mais famoso constrangimento, no entanto, foi o castelo não declarado em São João Nepomuceno. A residência chamada de Monalisa é avaliada em R$ 25 milhões e tem 36 suítes. Está no nome de seu filho.

A lista trouxe embaraço ao PR, mas nenhum deputado se mexeu para evitar a filiação. O líder da bancada, Sandro Mabel (PR-GO), esquivou-se. ¿A filiação do Edmar foi acertada por Minas e pelo presidente do partido¿, resumiu. O deputado Luciano Castro (RR) disse que estranhou a filiação e afirmou haver acerto para Moreira não disputar novamente uma cadeira na Câmara, em 2010.

¿Eu estranhei. Não vi motivo para ele se filiar se não vai concorrer em 2010¿, afirmou o ex-líder da bancada Luciano Castro (RR). ¿Não tem o menor sentido o PR atendê-lo se ele não vai disputar a eleição¿, enfatizou. Outros deputados do PR trataram de difundir que ninguém gostou da filiação. A legenda também passou a abrigar em seus quadros o deputado José Vieira (MA), vindo do PSDB.

O PR, quando ainda se chamava Partido Liberal, foi um dos alvos do ex-ministro José Dirceu para dar maioria confortável ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Câmara, no primeiro mandato. Dirceu articulou, com consentimento do então presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, o inchaço do partido. Deputados desembarcaram da oposição e inflaram os quadros do PL e do PTB. Os dois partidos acabaram sendo os principais alvos das denúncias do mensalão, esquema pelo qual o PT supostamente pagaria para deputados da base aliada votarem de acordo com a orientação do governo em matérias consideradas importantes pelo Palácio do Planalto.

Aluguel

Para se afastar da imagem de partido de aluguel, o PL virou PR, graças à junção com o Prona, do deputado Enéas Carneiro, morto em 2007. Edmar Moreira saiu do DEM (1)forçado, após a legenda comunicar sua desfiliação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em fevereiro. Ele passou todo o processo no Conselho de Ética sem partido. Acabou absolvido e teve o mandato preservado. Um dos articuladores da redenção foi o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele que disse se lixar para a opinião pública.

Relator do processo no Conselho de Ética, o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) pediu a cassação de Moreira por considerar imoral, ilegal e impessoal usar dinheiro público para pagar por serviços não comprovados das próprias empresas. O relatório não foi aprovado.

1 - Coleção de inimigos A turbulência política de Edmar Moreira teve início depois de ele se eleger segundo vice-presidente da Câmara à revelia do DEM, seu ex-partido. Moreira criou inimigos e foi obrigado a renunciar ao cargo pressionado por denúncias de ter injetado R$ 230,6 mil da verba indenizatória, reveladas pelo Correio, nas próprias empresas de segurança e ter escondido da declaração de bens o castelo Monalisa. Polêmico, ele defendeu, logo após ser eleito corregedor da Câmara, ser favorável à extinção do Conselho de Ética. O DEM não busca o mandato dele na Justiça por infidelidade partidária. O processo é movido pelo suplente Carlos Alberto.

"Eu estranhei. Não vi motivo para ele se filiar se não vai concorrer em 2010¿

Luciano Castro (RR), ex-líder da bancada do PR na Câmara dos Deputados