Título: Ofensiva diplomática contra o Irã
Autor:
Fonte: O Globo, 13/10/2011, O Mundo, p. 26

EUA convocam comunidade internacional a isolar o país após denúncia de complô terrorista

WASHINGTON

O governo dos Estados Unidos lançou seu exército diplomático numa ofensiva em busca de uma resposta mundial contra um suposto complô iraniano para assassinar o embaixador saudita e atacar as embaixadas saudita e israelense em Washington. As ações vão de declarações da secretária de Estado, Hillary Clinton, à mobilização de representantes no exterior para contactarem governos locais, com o objetivo de isolar o Irã. Os primeiros resultados não demoraram a surgir, com a condenação de países como França e Reino Unido, apesar de o caso continuar nebuloso e de os motivos que levariam a um atentado iraniano, incertos.

Embora as medidas sugiram que os EUA deverão buscar novas sanções na ONU, o vice-presidente Joe Biden disse que "nada está descartado". E o presidente da Comissão das Forças Armadas do Senado, Carl Levin, chegou a classificar como ato de guerra o complô desbaratado pelo FBI (a polícia federal) e pela DEA (a agência antidrogas) para um ataque em Washington.

Mas o tom do dia foi dado por Hillary, que pediu ao mundo para se unir a Washington na condenação ao suposto plano, destacando a violação a leis internacionais, assim como a tratados de proteção a diplomatas.

- O Irã deve prestar contas - exigiu. - Vamos trabalhar com nossos parceiros internacionais para aumentar o isolamento do Irã e a pressão sobre o governo. Convocamos as outras nações a se juntarem a nós na condenação à ameaça à paz e a segurança internacionais.

Os EUA anunciaram na terça-feira a descoberta de um plano de dois iranianos para matar o embaixador Adel al-Jubeir. Mansur Arbabsiar, naturalizado americano, foi preso há duas semanas, enquanto o outro suspeito, Gholam Shakuri, estaria no Irã, onde serviria na Força Quds, unidade de elite. O governo acusa Arbabsiar de dar US$100 mil a um agente infiltrado num cartel de drogas mexicano como parte do pagamento para o assassinato.

O Irã negou as acusações, afirmando que elas "ameaçam a estabilidade regional". Teerã enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mostrando sua indignação, e uma queixa à embaixada suíça, que representa os interesses dos EUA no país.

Questionamentos sobre o plano

Na ofensiva lançada ontem, o Departamento de Estado orientou suas embaixadas a levarem a denúncia a governos locais. Vice de Hillary, William Burns se reuniu com todo o corpo diplomático de Washington, enquanto a embaixadora na ONU, Susan Rice, relatou o caso a membros do Conselho de Segurança. Por conta própria, os EUA ampliaram as sanções ao país, incluindo a companhia Mahan Air, que financia e transporta forças iranianas. O presidente Barack Obama ligou ainda para o rei saudita. Segundo a Casa Branca, Obama e o rei Abdullah concordaram que o complô representa uma violação das leis internacionais.

As acusações encontraram eco na comunidade internacional, com a França condenando o suposto complô, enquanto o Reino Unido prometeu apoiar novas sanções. Já o príncipe saudita Turki al-Faisal disse que o Irã "terá que pagar o preço".

Apesar de a Casa Branca ter afirmado que altos membros da Força Quds participaram do plano, ainda há dúvidas sobre o caso. Fontes no governo americano destacam um grau de amadorismo no complô não condizente com a força de elite iraniana.

- A ideia de usar um vendedor de carros (Arbabsiar) que não pertence à Quds, que há anos reside nos EUA, não faz sentido - argumentou Kenneth Katzman, especialista em Irã do Serviço de Pesquisas do Congresso.

Para Rosemary Hollis, diretora de Estudos de Oriente Médio da City University, de Londres, é difícil determinar a veracidade do complô, mas a denúncia é "um importante sinal de um período muito volátil e potencialmente perigoso à frente:

- Parece uma advertência de que os EUA devem se tornar mais assertivos com o Irã e que farão isso em coordenação com os sauditas.