Título: Recorde negativo
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Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2009, Brasil, p. 9

Paraná é o estado onde o vírus H1N1 tem a maior taxa de mortalidade no país

Embora tenha o maior número absoluto de mortes pela influenza A (H1N1), conhecida como gripe suína, o Brasil está atrás de vizinhos da América do Sul em relação às taxas de mortalidade ¿ que comparam óbitos e população. Isso porque, apesar de a doença estar mais concentrada nas regiões Sul e Sudeste, o cálculo leva em consideração habitantes de todos os estados brasileiros. Mas, em regiões mais afetadas, o índice chega a superar o registrado em países que estão no topo da lista, segundo dados oficiais.

Com a confirmação, ontem, de mais 19 óbitos, o Paraná já contabiliza 170 mortos pela nova gripe. Em números absolutos, fica atrás de São Paulo, que registrou 223 vítimas. Mas como a população no estado paranaense é menor, a taxa de mortalidade está em 1,79 óbito para cada 100 mil habitantes ¿ à frente da Argentina, detentora do maior índice entre os países, com 1,08. No Rio Grande do Sul, a taxa de mortalidade chegou a 0,9 e superou a do Chile, cujo índice está em 0,75 e é o segundo maior do mundo.

Já em estados menos atingidos pela doença, como Pernambuco e Pará, onde houve apenas um óbito em cada localidade, as taxas não passam de 0,01. Com essa diferença entre as regiões, o Brasil aparece com índice de mortalidade de 0,30, em sétimo lugar na lista dos 15 países com mais mortes pela doença. Os dados são do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 26 de agosto, e das Secretarias Estaduais de Saúde.

O clima frio e a maior densidade demográfica nos estados mais atingidos pela nova gripe ajudam a explicar a diferença nas taxas de mortalidade, segundo o infectologista Artur Timermann. ¿O vírus circula melhor em lugares com temperaturas mais baixas e onde há maior concentração de pessoas. E o vírus chegou ao país no início do inverno. É natural que os estados do Sul e Sudeste tenham maiores taxas. Isso não chega a ser uma surpresa¿, afirma.

Retrato momentâneo

De acordo com os dados oficiais do ministério, o Brasil tem 557 mortes pela nova doença. Mas com as informações divulgadas pela Secretaria de Saúde do Paraná, o número saltou ontem para 576 até o fechamento desta edição. Os Estados Unidos, segundo país com mais óbitos, registram 522, conforme o último boletim, publicado em 15 de agosto. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lamentou ontem o fato de o Brasil estar no topo da lista das mortes. Mas avalia que esse é um retrato ¿momentâneo¿.

¿É uma doença nova, a dinâmica é muito grande. Estamos no Hemisfério Sul em pleno período de frio, enquanto os países do Hemisfério Norte estão no verão. Na realidade, essa situação com certeza vai mudar bastante¿, acredita. O ministro afirmou que ainda é cedo para analisar o comportamento da gripe no país. ¿Estamos simplesmente no início de uma nova doença, de uma pandemia que atingiu o mundo inteiro em um período muito curto¿, acrescentou.

Vítima era criança

A segunda vítima da nova gripe no Distrito Federal é um garoto que morreu em 24 de agosto num hospital da rede pública, segundo informou ontem a Secretaria de Saúde. Ele foi medicado com o antiviral Tamiflu, mas não resistiu. De acordo com a subsecretária de Vigilância à Saúde, Disney Antezana, a criança estava internada há mais de duas semanas e tinha uma doença pré-existente, que pode ter contribuído para agravar o quadro de saúde.

O resultado do exame que confirmou a infecção pelo novo vírus chegou à secretaria em 14 de agosto. O órgão, entretanto, preferiu não informar mais detalhes sobre o paciente, como idade, onde ele morava e o hospital no qual ele estava internado. ¿Estamos respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente e essas informações não interferem no acompanhamento da transmissão do vírus¿, afirmou a subsecretária.

A assessoria de imprensa do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) informou que um garoto de 11 anos internado com quadro grave de pneumonia morreu na última segunda-feira e teve amostras de secreção colhidas para a realização do teste que confirma a presença do vírus H1N1. Mas parentes do menino, que morava na Vila Telebrasília, informaram ao Correio que não receberam nenhuma confirmação do governo.

O número de casos confirmados da doença no Distrito Federal saltou de 188 para 300, de acordo com boletim divulgado ontem. A secretaria aguarda ainda resultados de 127 exames. Todos são feitos no laboratório Adolfo Lutz, em São Paulo, e não ficam prontos em menos de 10 dias. O governo afirma que o aumento era esperado e que está tomando medidas de prevenção.