Título: Portas abertas para a dengue
Autor: Mendes, Taís
Fonte: O Globo, 15/10/2011, Rio, p. 17

Segundo governo, 77% dos municípios do estado não se prepararam para epidemia

Dos 92 municípios do Rio, 71 não fizeram o dever de casa para prevenir uma possível epidemia de dengue no verão que se aproxima. Um levantamento da Secretaria estadual de Saúde revela que apenas 21 municípios (cerca de 23% das prefeituras do estado) cumpriram os itens pactuados pela Comissão Intergestores Bipartite, em junho deste ano. As secretarias municipais de Saúde deveriam elaborar um plano de contingência e alimentar os sistemas de informação do Programa Nacional de Controle da Dengue (Sisfad) e da Secretaria estadual de Saúde do Rio (RH Dengue). De acordo com o levantamento, 52 municípios sequer entregaram o plano de contingência.

A secretaria não vai divulgar, por enquanto, os municípios que não cumpriram o acordo. Será dada uma última chance, até o dia 15 de novembro, para que as prefeituras regularizem a situação. O plano de contingência deve, necessariamente, relatar os meios materiais e humanos disponíveis para as ações de controle do vetor e mobilização social. Na avaliação da subsecretaria de Vigilância em Saúde, Hellen Miyamoto, ainda há tempo para combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.

Maiores municípios não cumprem metas

Dos 71 municípios, 42 deixaram de usar o RH Dengue, aplicativo que permite à secretaria acompanhar as ações de visita de imóveis para controle da dengue nos municípios. Além disso, 31 não preencheram o Sisfad, sistema de informação oficial nacional que acompanha o quantitativo de recursos humanos, cobertura de imóveis visitados e tratados, e dados de índice de infestação. Além disso, o levantamento detectou um déficit de 500 agentes de endemia nos municípios. O total hoje informado pelos municípios à secretaria de saúde do estado é de 8.182 agentes.

Rio, Niterói e São Gonçalo estão na lista dos municípios que deixaram de cumprir parte ou todas as metas, o que é preocupante, segundo Hellen Miyamoto. Principalmente pelos registros da dengue tipo 4, até então inédito no Brasil, em Niterói e em São Gonçalo. Ela explica que, como o tipo 4 é novo, toda a população está indefesa ao vírus:

- As áreas de maior risco hoje são a Região Metropolitana, a Costa Verde e o Norte do estado. Na avaliação que fizemos, foram levados em conta os números de casos do anos passado, o tipo de vírus circulante e o índice de infestação dos domicílios. Esses municípios são os de maior vulnerabilidade, os que apresentam mais risco de uma epidemia, incluindo a capital.

Na lista dos municípios que fizeram o dever de casa, Nova Iguaçu é o único na Baixada Fluminense. A cidade ficou entre as 20 mais bem colocadas no ranking de prevenção à doença no estado do Rio graças a um esforço conjunto da prefeitura e de moradores como Marilda Alves da Silva, de 65 anos. Nas escolas onde leciona, a professora de Português também ensina a combater o mosquito.

Hellen Miyamoto diz que, na próxima terça-feira, vai se reunir com as prefeituras da Baixada para cobrar novamente o cumprimento do acordo.

Segundo especialistas, o vírus tipo 4 pode causar tanto casos assintomáticos (quando o indivíduo infectado não apresenta sintomas) quanto ocorrências fatais. E como o Aedes é encontrado em todo o país, o risco de uma nova epidemia pode ser considerável. Além disso, o vírus tipo 1, responsável por uma epidemia em 1986, está de volta, produzindo uma novas linhagens, de potencial mais agressivo. Quem nasceu após 1986, não desenvolveu qualquer defesa ao tipo 1. O sorotipo foi responsável por mais de um milhão de casos notificados no Rio em 2010, além de outros 159 mil de janeiro a setembro deste ano.

- Existem quatro tipos de vírus da dengue e qualquer um pode causar formas graves da doença. Alguns estudos mostram que o fato de uma pessoa ter dengue pela segunda ou terceira vez tem chance um pouco maior de desenvolver a forma grave - avisa Alexandre Chieppe, superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da secretaria.

A prefeitura do Rio afirma que o seu plano de controle da dengue foi elaborado em conjunto com a Secretaria estadual de Saúde e com o Ministério da Saúde. Em nota, afirmou que "a alimentação dos sistemas de controle está sendo feita de forma regular".

Rio, Niterói e São Gonçalo dizem ter mais de 4.400 agentes

Segundo o texto enviado pela prefeitura, o Rio tem 3.100 mil agentes de endemia e 500 profissionais recém-convocados por concurso, que estão passando por treinamento. Diz também que realiza, de forma permanente, mutirões contra o mosquito.

A prefeitura de Niterói afirmou que está implantando uma nova rede informatizada e que, por isso, ainda não foi possível alimentar o RH dengue. Em nota, diz também que todas as outras ações contra a dengue estão em andamento. Segundo a prefeitura, o município tem 203 agentes.

Já a prefeitura de São Gonçalo informou que o plano de contingência já foi elaborado e entregue à secretaria estadual de Saúde. Através denota, afirmou que "os sistemas estarão atualizados e integralmente alimentados no prazo de 48 horas". O município divulgou que possui 686 agentes de endemia e que criou um Comitê Municipal de Combate à Dengue, com os representantes de todas as secretarias.