Título: Na África, o teste de Dilma como líder regional
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 15/10/2011, O País, p. 11

Presidente viaja para afinar o discurso que países que formam o Ibas levarão para a reunião do G-20, na França

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff vai testar nesta semana, na África do Sul, sua capacidade de manter a liderança regional do Brasil, exercida até o final do ano passado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua primeira viagem ao continente africano desde a posse, Dilma pretende afinar o discurso com Índia e África do Sul - que, ao lado do Brasil, formam o chamado Ibas - sobre dois temas relevantes da agenda internacional: o enfrentamento da crise econômica e a reforma do Conselho de Segurança das Organizações das Nações Unidas (ONU). Dilma ainda visitará Angola e Moçambique.

A meta do Palácio do Planalto é permitir que o Ibas leve para a reunião do G-20, em Cannes (França), em novembro, uma posição conjunta que revele a preocupação dos três governos com o agravamento do cenário econômico e os reflexos negativos que a crise na Europa tem sobre os mercados emergentes.

Crise internacional será tema de reunião

Até agora, a presidente Dilma, repetidamente, tem criticado a demora da Europa para encontrar soluções que protejam os empregos e permitam a retomada do crescimento.

O governo federal ainda trabalhará para que o Ibas aprove mensagem a favor da abertura comercial, com o objetivo de tornar mais dinâmico o mercado internacional.

A preocupação ficou evidenciada com o pedido do Brasil para que a crise seja o primeiro tema em debate na reunião privada de Dilma com os colegas Jacob Zuma (África do Sul) e Manmohan Singh (Índia). Inicialmente, estava programada apenas uma discussão genérica sobre a cooperação econômica trilateral.

Na avaliação do Palácio do Planalto, o Ibas ganhou relevância no cenário internacional porque agrega nações em desenvolvimento, com democracias consolidadas e que exercem liderança regional. Como Brasil, Índia e África do Sul pleiteiam vagas no Conselho de Segurança da ONU. Ao final da reunião de terça-feira, os três países devem aprovar forte mensagem em defesa da ampliação dos atuais cinco assentos permanentes (Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Rússia). Não há previsão, entretanto, sobre quando ocorrerá a reestruturação do Conselho de Segurança.

De acordo com diplomatas brasileiros, o Brasil já exerceu seu papel de liderança e, agora, o Ibas forma um "triângulo" bem estruturado, capaz de influenciar os temas mundiais. O Ibas já foi assediado por países europeus para que sua formação inicial seja ampliada. Porém, o Brasil não gosta da ideia e estuda, em conjunto com Índia e África do Sul, um modelo alternativo, que dê a outros países o direito de participar de discussões pontuais.

Além da presença na 5ª reunião de cúpula do Ibas, em Pretória, capital sul-africana, Dilma fará rápida visita oficial a Moçambique e Angola, duas entre as oito nações que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), e com as quais o Brasil aumenta progressivamente sua cooperação político-econômica.

Angola já está há muito tempo no espectro brasileiro, tanto em razão da relação comercial quanto no avanço de acordos de cooperação em áreas estratégicas, como Defesa e agricultura. No caso de Moçambique, o governo brasileiro aposta na continuidade do acelerado crescimento econômico, simbolizado por investimentos da Vale na exploração de carvão, que podem alcançar a marca de US$6 bilhões.

Angola tem linha de crédito do BNDES

Fora do Brasil, a principal linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está em Angola, com desembolso acumulado de US$1,5 bilhão. Em Moçambique, além dos investimentos em energia e infraestrutura, o governo Dilma prioriza a cooperação técnica nas áreas de saúde e agricultura. O comércio entre Brasil e Angola, no ano passado, alcançou US$1,4 bilhão. Com Moçambique, as importações e as exportações somaram US$42 milhões.