Título: França e Alemanha avançam em plano contra crise na zona do euro
Autor: Müzell, Lúcia
Fonte: O Globo, 15/10/2011, Economia, p. 31

Proposta prevê mais ajuda à Grécia e fortalecimento do fundo de resgate

PARIS e BRUXELAS. França e Alemanha avançaram ontem nas discussões sobre um pacote abrangente visando à estabilização da zona do euro, que inclui a recapitalização dos bancos. Os ministros de Finanças francês, François Baroin, e alemão, Wolfgang Schäuble, tiveram uma reunião bilateral durante o encontro do G-20 (grupo das 20 principais economias do mundo). A proposta será apresentada aos demais países da União Europeia (UE) em uma reunião de cúpula em Bruxelas, no próximo dia 23.

De acordo com o "Wall Street Journal", o plano tem três pontos principais: um novo pacote de ajuda para a Grécia, o fortalecimento dos bancos afetados pelas perdas com a dívida grega (e temerosos quanto a Itália e Espanha), e a ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) - que, com a aprovação dos 17 membros da zona do euro, passou a 440 bilhões. Este também poderá comprar títulos da dívida de países endividados, ajudar bancos em dificuldades e oferecer crédito aos governos.

- Temos uma posição conjunta entre Alemanha e França - disse Schäuble, depois de se reunir com Baroin e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. - E estamos convencidos de que, juntos, podemos defender o euro como uma moeda estável.

As negociações sobre o pacote vão prosseguir, mas França e Alemanha já assinaram contratos sobre certos elementos a serem apresentados à cúpula da UE, explicou Baroin.

Preocupadas com a possibilidade de os bancos da região não aguentarem um calote da dívida soberana, as autoridades europeias estão trabalhando em um plano que vai exigir que as instituições financeiras elevem seu capital em pelo menos 100 bilhões, segundo estimativas de analistas citadas pela Bloomberg News. A Autoridade Bancária Europeia pretende completar a avaliação das necessidades de capital dos bancos da região antes da reunião de cúpula da UE, disse à Bloomberg o porta-voz da Comissão Europeia, Jonathan Todd.

Inflação na Europa sobe apesar da economia fraca

A situação dos bancos europeus continua a preocupar os mercados. Ontem a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) rebaixou a nota de longo prazo do banco francês BNP Paribas, de "AA" para "AA-". A S&P citou preocupações com a liquidez do banco. Na véspera, a Fitch havia colocado o BNP em revisão para possível rebaixamento.

A exposição à divida grega é o maior problema para os bancos franceses. Há três meses, os credores haviam concordado em arcar com uma perda de 21% no valor dos papéis. Agora, segundo fontes citadas pela Bloomberg, os bancos alemães já estariam se preparando para perdas de até 60%.

Enquanto isso, a economia europeia viu sua inflação atingir em setembro o maior patamar desde outubro de 2008: 3%. O indicador, que ficara em 2,5% em agosto, foi puxado por energia e vestuário. O dado, porém, estava dentro das estimativas dos analistas e conforme a projeção da própria UE.

Alguns economistas, no entanto, acham que a inflação pode ter atingido seu pico, devido à desaceleração da economia. Por isso, esperam que o Banco Central Europeu (BCE) pode reduzir a taxa básica de juros, hoje em 1,5%, em breve.