Título: G-20 quer recuperar confiança em bancos
Autor: Müzell, Lúcia
Fonte: O Globo, 15/10/2011, Economia, p. 31

França proporá regras para proteger consumidores. Emergentes pedirão em encontro maior representação no FMI

PARIS e BRUXELAS. A França vai propor hoje durante a reunião do G-20 - grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, entre ricos e emergentes - que sejam criadas regras para proteger os consumidores de serviços financeiros. O objetivo da medida, segundo o ministro de Finanças da França, François Baroin, é restaurar a confiança no setor e impedir uma repetição da crise financeira global.

O setor financeiro, sobretudo os grandes bancos, estão sob forte crítica por seu papel na turbulência global - que obrigou países a injetarem bilhões de dólares para salvar seus bancos, enquanto apertos fiscais e demissões prejudicavam os contribuintes. A revolta contra o que chamam de ganância corporativa gerou o movimento Ocupem Wall Street, que começa a se espalhar pelo mundo. O ministro francês disse que a multiplicação de produtos financeiros complexos revela o "cinismo" e a "falta de responsabilidade" em partes do setor financeiro.

Já os representantes dos países emergentes pretendem pressionar as nações ricas a reforçar o Fundo Monetário Internacional (FMI), como garantia para um eventual agravamento da crise. Trata-se de uma pauta que interessa sobretudo aos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índica, China e África do Sul), que defende uma maior voz para os emergentes na instituição. Estes países, no entanto, esbarram na resistência de pelo menos um opositor forte: os EUA. Ontem, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, insistiu que o FMI e os europeus já dispõem de recursos suficientes para gerenciar a crise.

- A questão é: que modelo vamos adotar pra reforçar o Fundo? É importante que, diante de uma nova crise mundial, o fundo tenha mais recursos disponíveis, que poderá utilizar não só para os países europeus, mas também para os emergentes, que poderão ser afetados caso a crise se agrave - afirmou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está em Paris para a reunião do G-20.

Além dos EUA, países com mais peso hoje resistem

Após uma reunião bilateral com Baroin, ontem, Mantega afirmou que conta com o apoio da França, embora os termos do reforço da instituição estejam em plena negociação entre os países. O ministro se negou a dar mais detalhes a respeito das propostas que estão sobre a mesa. Lembrou apenas que, no auge da crise financeira de 2008, o Brasil aumentou a sua participação, e em seguida comentou que "é bom que um novo reforço seja feito agora".

Com a atual contribuição, o Brasil é o 17º país com mais influência no órgão. A distribuição de novas cotas, que giraria em torno de US$350 bilhões, encontra resistência dos países que hoje têm mais peso no FMI e veriam o seu poder se diluir.

Quanto ao encontro ministerial de hoje, não há expectativas de anúncios significativos, à espera de uma cúpula decisiva dos países europeus, no dia 23 de outubro. No foco da crise atual, a Europa primeiro precisa entrar em um consenso sobre como vai conter o contágio da crise da dívida soberana de países como a Grécia antes de se comprometer com o resto do mundo.

Sendo assim, as decisões no âmbito do G-20 ficarão para a cúpula dos chefes de Estado e de Governo do grupo, nos dias 3 e 4 de novembro, em Cannes. Mantega se declarou mais otimista sobre o futuro da zona do euro após ouvir as propostas do ministro da França.

- Fiquei mais otimista porque eu acho que eles estão caminhando para a construção de soluções efetivas.

(*) Com agências internacionais