Título: Troca no comando começa por vice
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 24/10/2011, O Mundo, p. 26

BUENOS AIRES. A partir de 10 de dezembro, quando Cristina Kirchner iniciar seu novo mandato, Amado Boudou, atual ministro da Economia, assumirá a vice-presidência. Após quase quatro anos de uma fatídica convivência com Julio Cobos, que transformou-se em líder da oposição durante seu governo, Cristina terá um vice fiel ao projeto kirchnerista. A troca de Cobos por Boudou não será a única novidade do futuro Gabinete. A presidente pretende fazer várias mudanças, que incluiriam as pastas de Relações Exteriores, Trabalho, Agricultura e Defesa. O atual chefe de gabinete, Aníbal Fernández, famoso por protagonizar bate bocas com adversários, passará a ocupar uma cadeira no Senado e quem vai sucedê-lo é mais uma incógnita.

¿ O mais provável é que a presidente designe funcionários de sua extrema confiança, kirchneristas puros ¿ diz uma fonte do Executivo.

O futuro do Ministério da Economia também é incerto. Duas mulheres estão na lista de candidatos: a ministra da Indústria, Débora Giorgi, e a presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Mercedes Marcó del Pont. Cristina costuma elogiar a política industrial de Giorgi ¿ incluindo a aplicação de medidas protecionistas que, em muitos casos, provocaram atritos com o Brasil ¿ e também a gestão de Mercedes del Pont, que desembarcou no BCRA em fevereiro de 2010, após a escandalosa renúncia do candidato a deputado do peronismo dissidente Martin Redrado. Redrado se negou a autorizar a utilização de reservas para pagar vencimentos da dívida pública. Já com Mercedes del Pont a Casa Rosada passou a controlar plenamente a instituição.

Fortalecida após o voto de hoje, a presidente deve aproveitar também para distanciar-se de antigos aliados, entre eles o líder da Central Geral de Trabalhadores (CGT), Hugo Moyano. O governo estaria estudando um projeto de lei que estabelece a transferência para o Estado dos cerca de US$7,5 bilhões anuais que os planos de saúde dos sindicatos recebem por contribuições dos trabalhadores. A jogada teria dois objetivos: agradar amplos setores da classe média que questionam o enriquecimento dos sindicalistas e, paralelamente, obter recursos para continuar financiando os subsídios e programas sociais.

Cristina continuaria aliada à ala do Partido Justicialista (PJ) que não rompeu com o governo, mas daria mais espaço aos jovens de La Cámpora, o movimento nascido durante o governo Néstor Kirchner e liderado, nas sombras, por seu filho Máximo. Nos últimos anos, representantes de La Cámpora assumiram cargos gerenciais em empresas estatais como a Aerolíneas Argentinas, em diretorias de empresas nas quais o Estado tem participação, em secretarias e ministérios. (J.F.)