Título: UE só deve decidir sobre ampliação de fundo de resgate na quarta-feira
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Fonte: O Globo, 24/10/2011, Economia, p. 23

Uma das propostas é criar instrumento para atrair recursos de emergentes

ANGELA MERKEL dá a Sarkozy um ursinho, para sua filha recém-nascida

BRUXELAS. A reunião de cúpula dos chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) durou sete horas e terminou ontem sem o anúncio de medidas, o que só deve ocorrer no próximo encontro, na quarta-feira. Um dos pontos de impasse diz respeito a como ampliar o alcance do fundo de resgate europeu, hoje em 440 bilhões. Uma das opções seria montar, em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), um instrumento para atrair recursos das grandes economias emergentes ¿ o que poderia incluir, por exemplo, Brasil e China.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, desistiu de usar os recursos do Banco Central Europeu (BCE) para combater a crise da dívida, em face da ferrenha oposição da Alemanha.

¿ Nenhuma solução é viável se não tem o apoio de todas as instituições europeias ¿ disse Sarkozy em uma entrevista coletiva ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel.

Merkel afirmou que ainda serão discutidas duas opções para alavancar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), e nenhuma delas envolve a tomada de recursos do BCE. Estas seriam a criação de um fundo especial de investimento e o uso do Feef para garantir parte dos títulos da dívida italiana e espanhola.

Os líderes da UE também pressionaram a Itália a acelerar seu processo de reformas econômicas, a fim de evitar uma situação semelhante à da Grécia. Merkel e Sarkozy tiveram uma reunião fechada de meia hora com o premier Silvio Berlusconi.

Também não houve acordo sobre as perdas dos credores com a dívida grega. Em julho, foi acertado que estas ficaram em 21% do valor dos papéis. As autoridades europeias, no entanto, defendem um percentual entre 50% e 60%, mas os bancos aceitariam no máximo 40%, disse ontem uma fonte do setor à agência Reuters.

Outro ponto a ser definido esta semana é a recapitalização dos bancos europeus em até 110 bilhões, para que eles enfrentem melhor a crise da dívida. Fontes da UE disseram à Reuters que esse montante poderia incluir os 46 bilhões já prometidos a Portugal, Grécia e Irlanda, para que estes países ajudem seu próprio setor financeiro.

Sarkozy se irrita com críticas de Cameron à zona do euro

As discussões continuam amanhã, no encontro dos ministros de Finanças do bloco, e na quarta-feira, com a cúpula dos líderes. Inicialmente, a reunião seria restrita aos países da zona do euro, mas pressões, especialmente do premier britânico, David Cameron, levaram à inclusão dos dez países da UE que não aderiram à moeda única.

As discussões de ontem revelaram divisões entre os países que têm o euro e os que não têm. Estes têm criticado os membros da zona do euro, afirmando que a crise da dívida está respingando em suas economias. Esta tem sido a opinião defendida por Cameron, que tem o apoio de Suécia e Polônia.

O jornal espanhol ¿El País¿ ressaltou que a tensão atingiu tal ponto que Sarkozy disse a Cameron que os membros da zona do euro estavam ¿fartos de que nos digam o que fazer¿. ¿Vocês disseram que odeiam o euro e não o querem, mas agora querem intervir em nossos encontros¿, teria dito Sarkozy, de acordo com fontes diplomáticas, depois de não conseguir restringir a cúpula de quarta-feira aos países da zona do euro.