Título: O PCdoB desapareceu nas selvas do Araguaia
Autor: Jungblut, Cristiane; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 24/10/2011, O País, p. 3

VICTÓRIA GRABOIS

Diante das denúncias de corrupção vinculadas ao PCdoB, Victória Grabois constata que as convicções políticas defendidas por sua família acabaram esquecidas. Na Guerrilha do Araguaia, ela perdeu o pai, Maurício Grabois, o irmão, André Grabois, e o marido, Gilberto Olímpio, ex-combatentes que ainda hoje são considerados desaparecidos.

A senhora assistiu ao programa do PCdoB?

VICTÓRIA GRABOIS: Assisti e fiquei indignada. Não posso admitir que usem a imagem do meu pai, um grande comunista, que deu a vida a esse partido por suas convicções políticas e ideológicas. Ele foi perseguido, cassado, e desapareceu com seus companheiros. Os fatos que hoje atingem o partido são lamentáveis e não podem estar vinculados a esses valorosos dirigentes. Se meu pai estivesse vivo, ficaria envergonhado com o que virou o PCdoB.

A senhora se refere ao noticiário envolvendo o Ministério do Esporte?

VICTÓRIA: Sim. São estarrecedoras as notícias divulgadas pela imprensa sobre o envolvimento do PCdoB em escândalos de corrupção. Sinto-me mal com isso tudo. Antigamente não era assim. Afirmo sem medo de errar: o PCdoB desapareceu nas selvas do Araguaia.

Além de citar Maurício Grabois, o partido usou também imagens de outros comunistas ilustres, como Prestes, Olga Benário, Jorge Amado, Oscar Niemeyer...

VICTÓRIA: O partido está usando a história das pessoas, que atuaram de forma digna, para responder a acusações de corrupção. Nessa hora, lembram desses nomes. Mas só posso falar pelo meu pai.

Como vivia um dirigente do PCdoB naquela época?

VICTÓRIA: Minha família tinha uma vida espartana. Morava num apartamento de quarto e sala em Niterói. Tudo o que meu pai ganhava, inclusive como deputado constituinte (em 1945), era destinado ao partido. Não ficávamos com um tostão.

A senhora já foi filiada ao PCdoB?

VICTÓRIA: Fui, até cinco anos depois que voltei da clandestinidade, em 1980. Depois saí, não aguentei mais. Li que o partido tem mais de cem mil filiados. Hoje aceitam qualquer um. No passado, a pessoa precisava ter vínculo ideológico para conseguir a filiação. (Evandro Éboli)