Título: Alemanha admite perdas maiores de bancos. Grécia tenta evitar catástrofe
Autor:
Fonte: O Globo, 17/10/2011, Economia, p. 23

Instituições financeiras defendem que zona do euro aceite insolvência do país

BERLIM, ATENAS, PARIS e FRANKFURT. A maior participação dos bancos europeus na reestruturação da dívida da Grécia ganhou mais força ontem. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, disse que os detentores de títulos do governo grego devem aceitar perdas maiores para se chegar a "uma solução durável e sustentável" para a crise da dívida. Ele afirmou que será preciso renegociar o acordo firmado em julho, quando os credores privados da Grécia concordaram em abrir mão de apenas 21% da dívida grega que possuíam. Líderes europeus têm avaliado que o total pode chegar a 50% de perdas.

O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, pediu paciência aos gregos, cada vez mais furiosos com medidas de austeridade, dizendo, em entrevista, que o governo luta para evitar uma "catástrofe financeira".

- Eu gostaria muito de garantir a todos uma solução imediata, uma vida melhor hoje - disse. - Eu seria o homem mais feliz do mundo se eu pudesse fazer isso, mas não posso e tenho o dever de ser honesto e dizer a verdade a cada cidadão grego.

Alemanha defende recapitalização de bancos

Em meio à crise, ministros gregos pressionam para acelerar as reformas econômicas e acusam colegas de, intencionalmente, atrasar as medidas. As queixas vêm à tona no momento em que o país votará no Parlamento, quinta-feira, duras medidas de austeridade para 2011 e 2012.

O Instituto de Finanças Internacionais, grupo que reúne bancos em nível mundial, disse que seu diretor-gerente Charles Dallara está em negociações sobre o acordo de julho com autoridades dos 17 países da zona do euro. Sem dar detalhes, a instituição refuta mais perdas.

- Possivelmente terá que ser maior a contribuição do setor privado para uma redução da dívida grega - disse o ministro.

Um corte maior da dívida grega não parece ser a solução ideal para bancos alemães. No fim de semana, bancos privados da Alemanha pediram aos políticos da zona do euro que aceitem que a Grécia quebre e regras que forcem credores a fazer reserva de capital em seus balanços para bônus governamentais, disse a revista "WirtschaftsWoche".

- A Grécia não é capaz de pagar sua dívida pelo decorrer de várias gerações - disse Andreas Schimtz, chefe do grupo de lobby alemão BdB, que representa os bancos, à revista.

Schaeuble reiterou a necessidade de recapitalizar os bancos a fim de evitar uma expansão ainda maior da crise.

- Precisamos de uma regulação melhor e também de uma melhor capitalização dos bancos, o que estamos fazendo a curto prazo. Nem todo mundo vai gostar disso, mas é o melhor caminho para assegurar que não tenhamos uma escalada da crise devido a um colapso no sistema bancário.

Trichet: tratado da UE deve mudar para evitar crises

Schmitz se opôs a uma recapitalização forçada dos bancos alemães, porque, em sua avaliação, isso traria mais incerteza aos mercados.

- A recapitalização compulsória não soluciona a crise política de confiança.

Um pacote encabeçado por França e Alemanha deve ser concluído até a reunião do Conselho Europeu, dia 23, em Bruxelas. E deve atuar para impedir a falência da Grécia, recapitalizar bancos da região e dar impulso para o Fundo Europeu de Estabilização Financeira.

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse em entrevistas a rádio e televisão, que o tratado da UE deveria mudar para evitar que um estado-membro desestabilize todo o resto do bloco e defendeu uma liderança mais firme na zona do euro.

- É necessário mudar o tratado para impedir que um estado-membro saia dos trilhos e gere problemas aos outros.