Título: Chávez e Uribe elevam a tensão
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2009, Mundo, p. 19

Cúpula da Unasul será marcada pelo conflito entre Venezuela e Colômbia sobre bases dos EUA

Talvez o ar fresco do inverno em Bariloche não seja suficiente para esfriar hoje os ânimos dos presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A operação de tropas norte-americanas em sete bases militares na Colômbia levantou preocupações dos líderes de países vizinhos e originou a cúpula extraordinária na Argentina. Porém, outros atritos entre integrantes do bloco podem vir à mesa de negociações do Conselho de Defesa do bloco ou esquentar os bastidores da reunião: a polêmica busca por uma saída ao mar para a Bolívia provocou tensão nas relações entre Peru e Chile. E as últimas compras de armas pela Bolívia vêm incomodando o Paraguai.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, manifestou ontem em Paris a preocupação do Brasil com o acordo militar e disse torcer para que o encontro regional resolva a questão. ¿Queremos saber que tipo de equipamentos e como serão utilizados, e gostaríamos de ter garantias formais de que não vão ser usados de maneira diferente da que tem sido declarada¿, afirmou.

Bogotá e Washington defendem que o acordo tem por objetivo combater o narcotráfico e o terrorismo. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe(1), afirmou ontem em Cali que o acerto entre os dois países é o que faltava para o Plano Colômbia, assinado por ambos países em 2000. Por meio do documento, Washington destina a Bogotá US$ 600 milhões por ano para o financiamento de programas de segurança e cerca de 600 oficiais norte-americanos são autorizados a treinar tropas locais para combater o narcotráfico e a guerrilha. O ministro da Defesa, Gabriel Silva Luján, disse que o governo não mudará uma linha do acordo.

Entretanto, o texto enfrenta forte resistência, especialmente do venezuelano Hugo Chávez, que o aponta como uma agressão ¿imperialista¿ e promete levar um documento redigido pela Força Aérea dos EUA. Segundo ele, o texto demonstra que toda a Colômbia seria convertida em base americana. ¿É parte de um plano político e militar orquestrado para acabar com o projeto da Unasul¿, acusou Chávez, em nota publicada pelo jornal argentino Página 12. O venezuelano qualifica o acordo como ¿a maior ameaça neste momento histórico, para as infinitas riquezas do continente¿, ao citar o petróleo, as grandes reservas aquíferas e a Amazônia.

Contenciosos

Outras discussões atormentam a Unasul. Peru e Chile possuem contenciosos de longa data sobre questões de fronteira marítima. O chanceler chileno, Mariano Fernándz, rejeitou ontem, de maneira categórica, a intromissão de um terceiro país nas relações bilaterais do Chile com a Bolívia, sobre a possibilidade que o Peru proponha o tema da saída para o mar. ¿Isto não é tema para nenhum organismo multilateral e menos para que haja uma instituição da parte de terceiros países contra o Chile¿, reclamou. O embaixador peruano no Chile, Carlos Pareja, prometeu que o assunto ficará de fora do encontro. Já o chanceler paraguaio, Héctor Lacognata, pediu ao colega boliviano, David Choquehuanca, um relatório sobre as armas que La Paz busca adquirir. A cúpula de Bariloche será uma prova para o Conselho de Defesa mostrar ao mundo que não existe corrida armamentista na América Latina.

1 - Projeto adiado A Câmara dos Deputados da Colômbia adiou para a próxima terça-feira, 1º de setembro, a votação do projeto que convoca um referendo sobre a reforma constitucional que permitirá ao presidente Álvaro Uribe disputar o terceiro mandato consecutivo, em 2010. A decisão foi tomada na noite de quarta-feira, após uma sessão de sete horas na qual a oposição conseguiu obstruir a tramitação do texto. A bancada uribista acredita que dispõe dos 84 votos necessários para aprovar o referendo, mas persistem ameaças de ¿deserção¿ em partidos aliados.