Título: Orlando Silva: acordo foi com ex-ministro
Autor: Maltchik, Roberto; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 18/10/2011, O País, p. 3

Titular da pasta do Esporte diz que convênio com ONG de PM processado foi assinado por Agnelo Queiroz

BRASÍLIA. Apontado como suposto beneficiário de dinheiro de ONG ligada à sua pasta, o ministro do Esporte, Orlando Silva, transferiu para o o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, seu antecessor no comando da pasta, a responsabilidade pelo ministério ter fechado convênio com a ONG do policial militar João Dias Ferreira. O policial acusa Orlando de ter lhe proposto pessoalmente, em 2008, acordo para calá-lo sobre os supostos desvios de verba na pasta.

As declarações do soldado foram publicadas ontem pelo site do "Estado de S. Paulo". Conforme o PM, que responde na Justiça por desvio de recursos do Programa Segundo Tempo, o encontro foi em março de 2008, na sala de reuniões, no sétimo andar do ministério. Dias sustenta que Orlando sugeriu acobertar o esquema e acertou a confecção de um documento falso encerrando a disputa do ministério com a ONG.

Convênio começou em 2005 com verba de R$2 milhões

Em entrevista ontem, o ministro reiterou que se encontrou com o policial apenas uma vez, entre 2004 e 2005, quando era secretário-executivo do Esporte.

- Eu não era ministro do Esporte, era secretário-executivo. Era uma recomendação do ministro que eu recebesse a entidade representativa de um determinado segmento, que possuía um projeto social. Digo que era de boa fé porque não quero crer que o governador de Brasília de hoje tivesse qualquer informação sobre a conduta dessa pessoa que fosse desabonadora - afirmou Orlando.

Em 2005, o ministério firmou convênio de R$2,04 milhões com a Associação Brasiliense de Kung-Fu, presidida por Dias. No ano seguinte, outra parceria, de R$922,9 mil, foi feita com a Associação João Dias de Kung-Fu, também comandada pelo policial. A prestação de contas começou a ser exigida pelo ministério em 2008, mesmo ano da suposta tentativa de acordo.

Em 2 de abril daquele mesmo ano, em resposta à PM, que abrira processo para apurar a conduta do policial, o Ministério do Esporte enviou ofício confirmando irregularidades na gestão dos convênios. Porém, num outro documento, enviado dias depois, pediu que as informações fossem desconsideradas. Nesse intervalo, o policial teria pressionado o ministério a denunciar o suposto esquema de corrupção para favorecer o PCdoB. Apesar dos documentos, Orlando foi veemente ontem:

- Posso afirmar com certeza que não houve nenhuma mudança, nenhuma flexibilização, nenhum recuo por parte do ministério em nenhum momento.

Ministro reitera que permanecerá no cargo

Dizendo-se indignado com denúncias do policial, o ministro adiantou que vai processar seus acusadores, aos quais se referiu como "bandidos" e "delinquentes", por calúnia e dano moral, indo "até as últimas consequências" para defender sua honra. Ele informou que fica no cargo, embora a decisão sobre a permanência seja da presidente Dilma Rousseff.

- Não é possível que um criminoso, uma pessoa que foi presa, absolutamente desqualificada, que é ré em ações criminais do Ministério Público, que foi alvo de inquéritos de operações policiais se converta na fonte da verdade. Por isso, a minha indignação.

Em nota, Agnelo Queiroz, que está em viagem ao exterior, explicou que, na condição de dirigente de entidade e militante do PCdoB, Dias teve seu pedido de audiência encaminhado no Ministério do Esporte, como diversas outras pessoas que representam segmentos esportivos. "Faz parte da rotina administrativa a realização dessas audiências, sendo impossível o ministro atender a todos que as solicitam. Por isso, diversos pedidos são reencaminhados ao secretário-executivo", justificou, acrescentando que todos os procedimentos legais foram respeitados na celebração do convênio.