Título: A cobrança do PMDB
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2009, Política, p. 2

Partido exige presença de Dilma nas negociações estaduais. PT teme que ministra fique refém de caciques peemedebistas antes da hora

Dilma: peemedebistas querem solução de divergências nos palanques estaduais

Depois de pedir a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações com o PT sobre as disputas estaduais, o PMDB cobra agora a presença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, nas conversas sobre as eleições de 2010. A ideia dos peemedebistas é que a candidata de Lula à Presidência da República participe da costura de cada palanque regional, tornando-se, assim, avalista das decisões tomadas. Mesmo que elas resultem em duelo entre os dois partidos por governos estaduais, como ocorrerá, mantido o cenário atual, na Bahia e no Rio Grande do Sul. A iniciativa do PMDB(1) é uma espécie de seguro. Com ela, a maior legenda do país tenta garantir que Lula e Dilma atuem com isenção nos páreos regionais. Se gravarem para a propaganda eleitoral de um concorrente petista, terão de fazer o mesmo para o adversário peemedebista. E vice-versa. Na última segunda-feira, em encontro no qual Lula reuniu caciques das duas siglas, em São Paulo, líderes do PMDB sugeriram que Dilma participe periodicamente dos encontros da comissão que tentará selar a parceria entre os partidos em 2010. O grupo é formado pelos presidentes do PMDB e do PT, deputados Michel Temer (SP) e Ricardo Berzoini (SP), respectivamente ¿ e pelos líderes Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Segundo Alves, o presidente da República concordou com a sugestão. Os peemedebistas esperam que a palavra seja cumprida e que a ¿mãe do PAC¿ se envolva nas negociações, o que poderia lhe dar uma noção mais clara da situação eleitoral Brasil afora, além da oportunidade de estreitar laços com importantes cabos eleitorais. Vaccarezza confirmou o aval de Lula. Afirmou, no entanto, que Dilma não será uma presença constante nas reuniões da comissão. A ministra, alegam petistas, não teria espaço na agenda para isso. Tampouco seria de responsabilidade dela essa costura. ¿Sou completamente contra a presença da ministra. Não seria nada bom já começar refém dessa gente¿, afirmou uma estrela do PT.

Queda de braço No encontro com Lula, Temer e Alves disseram que o PMDB tende a aderir formalmente à campanha de Dilma, o que renderia minutos preciosos à chefe da Casa Civil no período de propaganda eleitoral. Para tanto, ressaltaram, é preciso resolver as divergências em estados considerados críticos. Em Minas Gerais, por exemplo, Temer e Alves defendem que a coalizão governista tenha um candidato único ao comando estadual: o petista ou o peemedebista melhor colocado nas pesquisas divulgadas em dezembro. O pré-candidato do PMDB é o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Já os petistas no páreo são o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.

Se vencer a disputa pelo controle do diretório regional petista, Pimentel disse que concorrerá ao Palácio da Liberdade, mesmo se não estiver à frente nas pesquisas. A situação de confronto deve se repetir na Bahia apesar da disposição de Lula de convencer o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), a não rivalizar com o governador Jaques Wagner, candidato à reeleição. Na reunião de segunda-feira, Vaccarezza chegou a dizer que, se o embate ocorrer, Lula deveria tomar partido de Wagner, quadro histórico do PT. Alves reagiu. Disse que Geddel também é um expoente do PMDB. E cobrou imparcialidade.

Diante do impasse(2), o presidente da República prometeu conversar pessoalmente com Geddel. Quer convencê-lo a aderir à chapa de Wagner, como postulante ao Senado. Lula também já avisou que procurará o deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA). Aliado do Planalto, Jader ameaça romper com a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), que tentará a reeleição. Cogita, inclusive, enfrentá-la no páreo. Se depender do Planalto, isso não ocorrerá, e Jader será candidato ao Senado, com seu filho Helder, prefeito de Ananindeua, indicado a vice na chapa reeleitoral de Ana Júlia.

1- Gigante O presidente Lula se empenha em fechar um acordo com o PMDB devido ao tamanho do aliado. A legenda tem nove governadores, 95 deputados federais, 19 senadores e 1.201 prefeitos. É recordista nacional em todos esses quesitos. Como dizem seus integrantes, tem uma capilaridade que pode ser decisiva na corrida presidencial e, por isso, é cobiçada por tucanos e petistas.

2- Divergências No Rio de Janeiro e no Ceará, peemedebistas e petistas também se estranham atualmente. O governador fluminense, Sérgio Cabral (PMDB), exige que o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), não dispute o Palácio das Laranjeiras. Já o deputado federal Eunício Oliveira (PMDB-CE) não quer saber do ministro da Previdência, José Pimentel (PT), no páreo pelo Senado.

Petista quer time para defendê-la

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acelera as negociações com o PMDB, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, começou a trabalhar, semana passada, na formação do estado-maior de sua campanha à Presidência da República. A decisão foi tomada em resposta ao desgaste público provocado pelo embate com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, usado pela oposição a fim de levantar suspeitas sobre o compromisso da ¿mãe do PAC¿ com a verdade. Dizendo-se cansada, Dilma reclamou ao presidente de que, até então, não havia generais escalados oficialmente para defendê-la. E acrescentou que os duelos com tucanos e democratas eram travados na base do improviso.

O presidente, que antes dizia em alto e bom som que a campanha presidencial era da alçada dele, concordou com a análise e decidiu colocar um time em campo. Sob a sua batuta, obviamente. O plantel será formado por ministros e parlamentares, além de petistas já escalados para ajudar na pré-campanha da ministra. Entre eles, os ex-prefeitos João Paulo (Recife), Fernando Pimentel (Belo Horizonte) e Marta Suplicy (São Paulo). Nesta semana, a ministra teve uma agenda de trabalho mais leve, quase que exclusivamente dedicada ao pré-sal. Foi uma recomendação médica, avalizada pelo presidente Lula, que ficou preocupado com as queimaduras sofridas pela chefe da Casa Civil em razão da radioterapia.

Depois do anúncio do modelo de exploração da camada do pré-sal e de mais alguns dias de recesso, Dilma retomará as viagens pelo país, em tentativa de mostrar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deslanchou. No giro, terá a companhia de Lula, como forma de reforçar a associação de imagem entre os dois personagens. (DP)

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