Título: Alerta da Alemanha sobre crise afeta mercados, e Bolsa de SP recua 2%
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 18/10/2011, Economia, p. 30

Dólar avança 2,25%, a R$1,769, depois de oito quedas consecutivas

RIO, DÜSSELDORF e ATENAS. Os mercados globais recuaram ontem após declarações do governo da Alemanha e dados sobre a economia dos EUA esfriarem o otimismo da semana passada. Com isso, o dólar comercial interrompeu, no Brasil, uma sequência de oito pregões em baixa e avançou 2,25%, a R$1,769.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), operou em queda desde a abertura e fechou em queda de 2,02%, aos 53.911 pontos. O mercado brasileiro seguiu o cenário externo. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 2,13%, e o Nasdaq, 1,98%. Na Europa, o FTSE 100, principal índice da Bolsa de Londres, recuou 0,54%. Paris perdeu 1,61% e Frankfurt, 1,81%.

Pesou nos mercados o alerta da Alemanha de que a crise da dívida na zona do euro não será completamente resolvida após a reunião de cúpula da União Europeia (UE), no próximo dia 23, conforme afirmaram a chanceler Angela Merkel e o ministro de Finanças, Wolfgang Schäuble.

- A chanceler alerta para o fato de que os sonhos que estão surgindo, de que na segunda-feira tudo estará resolvido, mais uma vez não se tornarão realidade - afirmou seu porta-voz, Steffen Seibert.

- De certa forma, o que o governo alemão falou é um pouco óbvio. A solução para os problemas da Europa é um processo, e não dá para esperar um pacote definitivo - disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

Investidores olham hoje para o PIB chinês

O estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, viu um movimento de embolso de lucros, depois da forte alta da Bovespa na semana passada, de 7,39%. O gestor de renda variável da Máxima Asset Management, Felipe Casotti, destaca ainda que essa alta se deveu apenas a expectativas:

- Não havia motivos para subir tanto na semana passada e não há motivos para cair tanto hoje (ontem) - afirmou.

Além disso, dados do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) apontaram crescimento de 0,2% em setembro na produção industrial, dentro das projeções. Mas o Índice Empire State, do Fed de Nova York, mostrou contração da indústria na região. Hoje os investidores esperam a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos em um país) da China.

No mercado de câmbio brasileiro, o dólar manteve a valorização observada frente às principais moedas. Mas, no mês, acumula queda de 6%. Na avaliação do diretor de Tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, o movimento de queda por oito pregões seguidos foi exagerado, daí a forte alta de ontem. Mas o gerente de câmbio da Fair Corretora, José Roberto Carreira, acredita que a tendência de valorização do real deve se manter:

- Enquanto houver entrada de recursos externos, dificilmente o dólar vai subir muito - prevê Carreira, que aposta no dólar oscilando entre R$1,70 e R$1,75.

Grécia se prepara para greve geral de 48 horas

Na Bovespa, Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) recuou 1,73%, a R$19,30, e Vale PNA perdeu 3,53%, a R$38,74. Segundo Galdi, da SLW Corretora, os papéis das duas empresas foram influenciados pelo vencimento de opções (operação em que se negocia o direito de comprar ou vender um ativo por um preço determinado no futuro). Segundo a BM&FBovespa, o exercício de contratos de opções sobre ações movimentou R$3,31 bilhões no pregão de ontem, sobretudo nos papéis de Vale e Petrobras. O volume total de negócios foi de R$8,5 bilhões.

As atenções agora estarão voltadas para a Grécia, que enfrenta, a partir de amanhã, uma greve geral de 48 horas, enquanto o Parlamento vota um duro pacote de medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais. As duas principais uniões sindicais da Grécia prometeram uma das maiores greves desde o início da crise, há dois anos. Não haverá transporte público e os hospitais só atenderão emergências. Hoje será a paralisação da imprensa, de modo que os jornais não circularão na quarta-feira.

Com os líderes da UE correndo para preparar um novo acordo de resgate antes da cúpula do dia 23, o ministro grego de Finanças, Evangelos Venizelos, disse que esta semana "talvez tudo possa ser decidido".

(*) Com agências internacionais