Título: Aliados temem fatos novos
Autor: Souza, André de
Fonte: O Globo, 19/10/2011, O País, p. 15

Para eles, ministro ganhou sobrevida, mas continua refém de João Dias

Maria Lima, Chico de Gois e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A orientação seguida à risca de não ficar na retranca no depoimento ontem na Câmara, repassada pelos ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), deu uma sobrevida ao ministro do Esporte, Orlando Silva. Sem oposição e com um plenário recheado de aliados, o ministro mostrou segurança, mas isso não significa que tenha saído fortalecido, avaliaram integrantes do governo e da base governista no Congresso. O consenso é que Orlando Silva sai enfraquecido desse episódio. Se resistir agora, vira forte candidato a sair na reforma ministerial, em janeiro.

Permanece no Planalto e entre os governistas o temor de que a qualquer momento fatos novos, trazidos pelo homem-bomba João Dias Ferreira, possam jogar por terra essa blindagem.

- Esse João Dias é um homem-bomba disposto a tudo. Ninguém sabe com quem ele conversou no ministério, com quem negociou, se tem uma gravação - revelou um dos interlocutores de Orlando Silva ontem durante o seu depoimento.

Mesmo avaliando como bom o desempenho do ministro, seus aliados concordam que ele continua refém de fatos novos. E dizem que o PM João Dias quis "apenas criar tensão" ao ter uma conversa informal com parlamentares da oposição. Por outro lado, acreditam que, se ele não apresentar logo as provas materiais incriminando o ministro, as denúncias perdem consistência.

- Já vimos esse filme, enfrentamos as mesmas dificuldades. O problema não é convencer o Congresso, é convencer a sociedade e a presidente Dilma. Ficou muito ruim para o ministro, né? - comentou o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG), lembrando que Orlando enfrenta o mesmo processo de desgaste político que derrubou os ministros Alfredo Nascimento, Pedro Novais e Antonio Palocci.

Em conversas, o presidente da República em exercício, Michel Temer, mostrou ceticismo em relação ao bom desempenho de Orlando Silva em suas explicações.

- O Michel acha que é muito difícil, porque o ministro Orlando Silva enfrenta o mesmo processo dos outros que caíram. Começa de um jeito e ninguém sabe como termina. Quando o ministro está fragilizado fica igual janela sem vidro: choveu, molhou - contou um interlocutor de Temer.

Publicamente, apesar de acreditar que o ministro do Esporte dará esclarecimentos, Michel Temer evitou dizer se o depoimento de Orlando Silva na Câmara era convincente:

- A ideia do governo é ouvir os esclarecimentos que tem a dar. Mas eu creio que ele dará esclarecimentos suficientes. Vamos ver as alegações e fundamentações. Pelas palavras que eu ouvi até agora ele está convicto do que diz. Vamos aguardar os acontecimentos.

Outra avaliação entre os governistas é que foi um tiro no pé a estratégia do PCdoB de tentar jogar a culpa do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte em cima do governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz. Ontem o PT prestigiou o depoimento de Orlando Silva, mas nos bastidores, o clima é pesado.

- Isso já foi superado - tentou minimizar o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).