Título: Promessa de fidelidade
Autor: Alves, Henrique Eduardo; Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2009, Política, p. 4

Peemedebista afirma que por coerência o partido estará no palanque dos petistas.

Líder do PMDB na Câmara, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN) diz que não há possibilidade de o partido desembarcar do governo e apoiar, na eleição presidencial de 2010, o concorrente escolhido pelo PSDB. Antigo aliado dos tucanos, Alves mantém o discurso segundo o qual a tendência é a maior legenda do país aderir à chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, inclusive com a indicação do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (SP), para o posto de vice.

¿Por coerência e lógica política, o PMDB deverá estar no palanque do presidente Lula¿, declarou o líder. Para consumar o casamento, Alves ressaltou que é fundamental o PT respeitar as candidaturas regionais de peemedebistas. E, mais do que isso, Lula e Dilma serem isentos nas unidades da Federação onde as duas siglas disputarem o comando estadual. ¿Isso é uma pré-condição.¿ A seguir, os principais trechos da entrevista do deputado ao Correio.

Queremos igualdade de tratamento. Ou seja, se vai para um palanque, vai para o outro¿

Por conveniências regionais, o PMDB não apoiou candidatos a presidente nas últimas eleições. Por que faria diferente em 2010? Não foi por conveniência, foi por falta de unidade. É sempre bom que o partido tenha participação na chapa presidencial. Agora, para isso, é preciso ter unidade ou ampla maioria nesse sentido. E nas direções passadas, é um mea-culpa que temos de fazer, não trabalhamos nem conquistamos essa unidade. Hoje, o PMDB está mais organizado e tem tudo para participar de uma chapa presidencial, com a indicação de um espaço importante, que é a vice-presidência da República.

O nome mais adequado para vice é o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP)? O deputado Michel Temer é presidente nacional do PMDB, representaria institucionalmente o partido na chapa presidencial. Cada liderança, cada eleitor do PMDB, quando olhasse para a chapa, se não votasse pelo presidente, votaria pelo vice-presidente, que seria o seu presidente nacional. Seria uma motivação partidária importante. Daí eu achar que Michel Temer, em relação a outros nomes, teria essa qualidade a mais por representar institucionalmente o partido.

Onde houver disputa nos estados entre o PT e o PMDB, vocês esperam imparcialidade do presidente Lula e da ministra Dilma? Queremos igualdade de tratamento. Ou seja, se vai para um palanque, vai para o outro. Se vai gravar propaganda para um, grava para o outro. Isso é fundamental. O presidente já concordou com essa posição na reunião de segunda-feira, quando eu e Michel dissemos que isso era uma questão básica para que o respeito seja mantido, porque a maior beneficiária desse posição seria a ministra Dilma.

Na mesma reunião, o presidente Lula lembrou que o PT ajudou a arquivar as denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O PMDB se sente em dívida com o governo? Não, até porque o PMDB no Senado tem uma atuação de apoio à governabilidade. O que houve é que o PMDB preservou o seu espaço, prestigiou o presidente José Sarney, e também interessava ao governo manter essa posição de apoio. A questão eleitoral é outra, e tem tudo para caminhar bem, mas dependerá da relação franca, leal, que o PT venha a ter com o PMDB. As nossas lideranças que fazem do PMDB o maior partido do Brasil são questões fundamentais para o PMDB.

Por que o presidente deve levar a sério a negociação com o PMDB? O PMDB está participando qualitativamente do governo Lula. Não é uma participação periférica. O presidente Lula confiou mais que qualquer outro presidente nessa participação, dando ao PMDB o comando de partes importantes do seu governo. Então, não entendo como o partido estaria no palanque da oposição no próximo ano. Por coerência e lógica política, o PMDB deverá estar no palanque do presidente Lula. Para isso, é preciso que nossos projetos estaduais, que passam a ser nossa prioridade, sejam respeitados, como respeitamos a opção do PT de ter a candidatura presidencial.

Há uma suspeita de que peemedebistas usarão as divergências nos estados para desembarcar do governo e aderir aos tucanos em 2010? Essa posição contraria a lógica e a coerência, porque uma candidatura tucana é de oposição a este governo, será um discurso crítico a este governo, proporá mudar este governo, só que este governo é nosso, estamos participando dele. Então, nosso palanque é o presidente Lula. Agora, para que aconteça esse casamento, é preciso os noivos terem uma boa relação, é preciso respeitar as nossas lideranças regionais, que fazem do PMDB o maior partido do Brasil.