Título: Entenda as acusações
Autor: Fabrini, Fábio; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 19/10/2011, O País, p. 4

O programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, é alvo antigo de denúncias. As mais recentes, neste fim de semana, foram feitas pelo policial militar João Dias Ferreira contra o ministro Orlando Silva, do PCdoB. À "Veja", o PM João Dias - militante do PCdoB preso ano passado acusado de participar de esquema de desvio no Ministério do Esporte - contou como funciona um esquema que teria consumido R$40 milhões do programa. Orlando negou as acusações, colocou-se à disposição do Congresso e pediu apuração pela PF.

O PM disse que o esquema existe desde que o Esporte era comandado por Agnelo Queiroz, hoje governador do DF, mas que foi montado por Orlando Silva, secretário-executivo da pasta nos primeiros anos do governo Lula. O dinheiro da propina, segundo a denúncia, iria para o PCdoB e teria financiado a campanha presidencial de 2006.

Segundo o PM, uma caixa com dinheiro do esquema foi entregue a Orlando no prédio do ministério por Célio Soares Pereira, também do PCdoB e que hoje é gerente da rede de academias do PM. Ferreira disse ainda à "Veja" que Fredo Ebling, dirigente do PCdoB, "era encarregado de indicar a quem, quando e onde entregar o dinheiro". A denúncia de Ferreira foi usada ano passado contra Agnelo, na campanha.

Segundo o Esporte, Ferreira firmou dois convênios com o Segundo Tempo, em 2005 e 2006, por meio da Associação João Dias de Kung Fu e da Federação Brasiliense de Kung Fu. O ministério diz que o objeto dos convênios não foi cumprido e que "determinou a suspensão dos repasses". O ministro encaminhou o processo ao TCU e pediu abertura de tomada de contas especial. O ministério disse cobrar a devolução de R$3,16 milhões.

Ao jornal "O Estado de S.Paulo", João Dias também acusou Orlando de ter lhe proposto pessoalmente, em 2008, acordo para calá-lo sobre os supostos desvios de verba na pasta. Segundo o PM, o encontro foi em março de 2008, no 7º andar do ministério. Ferreira sustenta que Orlando sugeriu acobertar o esquema e acertou a confecção de um documento falso encerrando a disputa da pasta com a ONG.

Também nesse fim de semana, o "Fantástico", da TV Globo, mostrou que o Ministério Público de São Paulo suspeita que a ONG Pra Frente Brasil, beneficiada com R$28 milhões do Esporte e gerenciada pela ex-jogadora de basquete Karina Valéria Rodrigues - vereadora da cidade paulista de Jaguariúna pelo PCdoB -, tenha contratado empresas de fachada para fornecer lanches e material esportivo, com "laranjas".