Título: Delator diz ter provas, mas não as apresenta
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 19/10/2011, O País, p. 3

Governistas conseguem evitar convite para PM ser ouvido oficialmente

BRASÍLIA. Enquanto o ministro do Esporte, Orlando Silva, participava ontem de audiência na Câmara dos Deputados, o policial militar e ex-filiado ao PCdoB João Dias Ferreira reiterava suas acusações de corrupção, em audiência informal e fechada com os principais líderes da oposição. O PM não apresentou provas, mas assegurou ter a gravação de áudio da reunião que participou, em abril de 2008, com pelo menos quatro representantes do Ministério do Esporte, na qual teriam lhe proposto silêncio sobre as irregularidades.

João Dias, que não compareceu ao depoimento na Polícia Federal de manhã, alegando problemas de saúde, prometeu depor amanhã. No Congresso, a oposição insiste na saída de Orlando Silva, quer investigação do Ministério Público e pede até a criação de CPI.

A audiência com João Dias foi articulada pelo líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), após ver seu convite ao PM ser derrubado pela base governista na Comissão de Educação do Senado. Para a oposição, João Dias disse estar sofrendo ameaças de morte há pelo menos dois anos. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), enviou requerimento ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, solicitando proteção de vida para o PM.

- O ministro me ligou dizendo que havia recebido o meu requerimento, mas disse que João Dias só poderia receber proteção policial depois de depor e assinar um documento aceitando essa segurança - explicou Duarte Nogueira.

João Dias, porém, disse que não pretende aceitar a proteção policial, pelo menos por enquanto:

- Sou pai de família, policial da ativa, com CPF e endereço. Não sou bandido ou criminoso. Tenho sofrido ameaças há mais de dois anos. Elas se intensificaram nos últimos dias, com bilhetes colocados em meu carro, e-mails e carros rondando o condomínio em que moro. Agradeço a proteção solicitada pelo líder do PSDB, mas só vou aceitá-la se as ameaças prosseguirem.

Mesmo sem apresentar provas, João Dias teria impressionado os parlamentares "pela contundência" de suas afirmações. Na conversa, citou pelo menos três firmas que emitiam notas frias para ONGs fecharem convênios com o ministério. O PM promete fazer mais revelações à PF. Disse que "em breve" surgirão documentos que comprovarão suas denúncias. Tentou justificar ao senadores seu patrimônio, incompatível com os ganhos como policial.

- Ele contou que tem academias há mais de 20 anos e hoje teria dez mil alunos - disse Álvaro Dias.