Título: Pela porta da frente
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 29/08/2009, Política, p. 4

O caseiro continua a causar ao ex-ministro ao menos um constrangimento político. Francenildo se consolidou como uma marca negativa na biografia do petista. Impõe a Palocci um teto de voo. Amarra-lhe as asas, dificultando projetos que antes eram considerados favas contadas

Por cinco votos a quatro, o Supremo Tribunal Federal (STF) livrou o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho de responder a uma ação penal por conta da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. No Judiciário, ele está absolvido. Mas, e politicamente? O petista recuperou a força necessária para planejar voos mais altos? Está pronto para o papel de plano B à Presidência da República? Preparado para retornar ao ministério de Luiz Inácio Lula da Silva ou concorrer ao governo de São Paulo? A política não permite sentenças definitivas. É como nuvem, disse o ex-governador Magalhães Pinto, a fim de ilustrar as mudanças de vento que já favoreceram o renascimento, por exemplo, dos senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Renan Calheiros (PMDB-AL).

Apesar desse grau de imprevisibilidade, há indícios que permitem imaginar respostas às questões. No início do mês, por exemplo, Palocci disse a colegas de PT que não gostaria de reassumir uma cadeira no primeiro escalão do governo. Alegou que, se voltasse ao ministério, seria para uma pasta ¿menor¿ do que a Fazenda, referindo-se à possibilidade de substituir José Múcio Monteiro na Secretaria de Relações Institucionais. Ou seja, regressaria pela ¿porta dos fundos¿, sem a chance de recuperar o status de ¿homem forte¿ que o acompanhou durante a maior parte do primeiro mandato do presidente Lula. A petistas, o ex-ministro também mostrou pouco entusiasmo por eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes.

Além dos baixos índices de intenção de voto registrados nas pesquisas, ele deixou no ar a sensação de que teme o efeito Francenildo na campanha. De que receia a exploração por adversários políticos da imagem do alto burocrata que usa sua força política e a máquina pública a fim de desqualificar um cidadão humilde só pelo fato de este ter feito declarações que o desabonavam. Apesar de derrotado no Supremo, o caseiro continua a causar ao ex-ministro ao menos um constrangimento político. Francenildo se consolidou como uma marca negativa na biografia do petista. Mesmo que involuntariamente, impõe a Palocci um teto de voo. Amarra-lhe as asas, dificultando projetos que antes eram considerados favas contadas.

Redenção Quer dizer, então, que Palocci está fadado a viver sob restrições? Longe disso. Se Lula inventou a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência, pode muito bem se empenhar para devolver o correligionário ao centro do tablado. Basta que seja conveniente a ambos. Essa, no entanto, não é a tendência. O caminho natural do ex-ministro é tentar um novo mandato de deputado federal. Em benefício dele, de Lula e até de Dilma. Hoje, a reeleição de Palocci aparece como barbada na banca de apostas.

Ex-prefeito de Ribeiro Preto e ex-comandante da Fazenda, ele nem sequer teria de se dedicar integralmente à campanha. Tampouco seria ameaçado pela superexposição do caso Francenildo, o que provavelmente ocorreria no embate pelo governo paulista. Ficando de fora da sucessão do tucano José Serra (PSDB), Palocci teria mais tempo disponível a fim de contribuir com a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil. Desde antes do desfecho do processo judicial, o Planalto reservava a ele o papel de coordenador de campanha. Seja formal ou não. Não é à toa. Palocci é o queridinho dos banqueiros e dos industriais.

Longe dos holofotes de uma disputa majoritária, tem plenas condições de azeitar a relação entre a iniciativa privada e a ¿mãe do PAC¿, tachada de intervencionista pelo tal do mercado. Ou, ainda, de reeditar o trabalho que fez em favor de Lula na campanha de 2002, consumado na Carta ao Povo Brasileiro. Trabalho que garantiu a Palocci o Ministério da Fazenda em 2003 e que, se repetido com sucesso, pode lhe assegurar uma posição privilegiada em eventual governo Dilma. Com a vantagem de que o retorno ao Planalto nesse caso, se consumado, será pela porta da frente.