Título: No Rio, o descaso despejado na Baixada
Autor: Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 20/10/2011, O País, p. 14

Área tem só uma estação para tratar esgoto

A Baixada Fluminense é para onde convergem os mais graves problemas de saneamento do Rio. Só uma estação de tratamento de esgoto, a de Sarapuí, em Belford Roxo, serve a região em grande escala, diz a ONG FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional). Outras estações pequenas funcionam, mas sem dar a vazão necessária.

- E o pior é que boa parte do esgoto não tratado, cerca de 70% do total, deságua na Baía de Guanabara - disse a urbanista Rossana Tavares, da FASE.

Não à toa, na região, os dados do Atlas de Saneamento se traduzem em cenas chocantes. Casas jogam esgoto por canos instalados acima de um grande valão; acompanhando a trajetória do valão, depara-se com o Rio Guandu. No bairro de Nova Belém, Japeri, Fabiana Carvalho, doméstica desempregada e com quatro filhos, diz que a população só tem água "de madrugada":

- Temos que estocar.

No Morro da Mata Virgem, em Rodilândia, Nova Iguaçu, um cano clandestino que se conecta à rede estadual de água serve a todos os moradores, que estocam água em garrafas pet ou em caixas d"água sujas. Tatiane Menezes e todos os moradores dali tomam banho de caneca e, como não há esgotamento, lançam detritos na terra ou em valões.

- O risco de leptospirose é enorme - observou Tatiana, que ontem levou as duas filhas para beber água diretamente do cano clandestino.

Presidente da Cedae, Wagner Victer diz que os dados do Atlas demonstram uma melhora do estado no setor:

- Temos de avançar, sobretudo na Baixada. Mas, mesmo nessa região, estamos acima da média nacional. Já na capital, quanto ao tratamento de esgoto, 59% já estão resolvidos. Com a ETI de Sarapuí e a de Alegria, o esgoto tratado que chega à Baía de Guanabara triplicou.