Título: Advogado nega ligação com irregularidades
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Fonte: O Globo, 20/10/2011, O País, p. 10

Acusados por João Dias, ele e ex-funcionária do Esporte desmentem participação em esquema

BRASÍLIA. O advogado Júlio Vinha negou ontem qualquer vínculo com o suposto escritório de arrecadação de propina para militantes do PCdoB no Ministério do Esporte denunciado pelo soldado da PM João Dias Ferreira. Vinha disse que prestou serviços para uma das ONGs do policial, entidade acusada de desviar R$3,2 milhões do programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte. Vinha disse que colaborou ainda com a preparação de projetos de duas outras entidades - a Federação dos Trabalhadores do Comércio e a Associação dos Servidores do Tribunal de Contas da União - também financiados pelo ministério.

Numa entrevista ao GLOBO, o policial, ex-militante do PCdoB, disse que Vinha despacharia ao lado da também ex-militante do PCdoB Ralcilene Santiago, coordenadora-geral de projetos do Ministério do Esporte na gestão de Agnelo Queiroz - o hoje governador do Distrito Federal - como ministro da pasta.

- Nunca trabalhei no ministério, nunca tive sala lá. Não posso ter sala se não trabalhei lá. Fiz alguns projetos, sim, lá no ministério, para três entidades, entre elas a do João Dias - disse o advogado ontem.

Vinha afirma que frequentava o ministério apenas para tratar de assuntos técnicos dos projetos de algumas ONGs. O advogado disse que cobrava comissão das ONGs, mas que os percentuais não passavam de 6% e que era pagamento por seu trabalho pela "elaboração intelectual" das propostas de projetos. Ele disse que foi indicado por Ralcilene para atuar para ONGs que tinham convênio com o Segundo Tempo.

- O João (Dias) me disse que ele me procurou porque ela (Ralcilene) falou que me conhecia, conhecia meu trabalho, que eu tinha possibilidade de fazer para ele isso. Foi ele que me falou isso. Os outros dois também me procuraram. Imagino que possa ter sido por indicação dela - afirmou Vinha.

Ralcilene, hoje funcionária da Secretaria de Habitação do governo Agnelo Queiroz, ontem negou ter sugerido o nome do advogado para ONGs. Disse que trabalhou apenas um ano e meio na Secretaria de Esporte Educacional do ministério, entre 2005 e 2006, e que, por isso, não teria condições de ser a "chefona" de nada, conforme insinuou João Dias na internet.

- Eu sou funcionária do Estado. Eu posso dar uma informação. Se o senhor quiser uma informação, eu digo: "precisa disso, disso e disso". É o meu papel. Para isso eu sou servidora pública, para informar. Agora dizer: "O senhor não tem condições de fazer (um projeto), vai lá tal, tal, tal"... Isso não, de forma nenhuma - disse ela.

Ralcilene disse que viu o advogado na repartição, mas não soube dizer a frequência com que ele fazia visitas à sala onde trabalhava com outras servidoras. Ralcilene afirmou que faz muito tempo que deixou o ministério e que não guardou as anotações do período.

- Talvez (Julio Vinha) falasse comigo. Porque, como eu falei, era uma sala aberta. Quando as pessoas passam, vão cumprimentando. Cumprimentam abertamente. Falam : "oi". Nada que fosse uma coisa do outro mundo. A pessoa entrou :"bom dia, bom dia" e pronto - disse.

A ex-comunista cobrou ainda de João Dias a apresentação de provas e disse que vai processar o policial e os jornais que citarem o nome dela.